É já este fim de semana que a aldeia de Vale de Telhas, no concelho de Mirandela, revive uma das tradições populares mais irreverentes da região: o “Serrar a Belha”. O evento, de raízes antigas e espírito satírico, vai animar as ruas com muita crítica social, humor e música à mistura.

A tradição, que remonta a tempos pagãos e mais tarde se cruzou com o calendário cristão, tinha caído no esquecimento durante décadas. Mas desde 2010, com o impulso da associação local, e de forma contínua desde 2018, o ritual voltou a ganhar vida.

Antes, o costume passava por grupos de homens que, vestidos de negro, percorriam a aldeia em silêncio ou fazendo barulho com latas, ridicularizando os comportamentos menos bem vistos do ano. As identidades ficavam escondidas e a crítica era certeira — e por vezes dura. Hoje, a sátira continua, mas com regras mais brandas para não melindrar ninguém.

O ritual gira em torno da figura da “belha”: uma senhora rabugenta e prestes a morrer, que ao longo da noite vai sendo julgada pelas suas ações, até se decidir se o seu destino será o céu ou o inferno. No final, há um funeral simbólico com carpideiras, e queima-se uma grande “belha”, um boneco que marca o fim do inverno e a chegada da primavera.

Mas nem só de tradição vive o fim de semana. Este ano, a sexta-feira estreia um festival gastronómico dedicado ao polvo. Haverá ainda tascas distribuídas pela aldeia e muita animação musical — no sábado à noite, sobem ao palco os Galandum Galundaina.

Jornalista: Micaela Costa

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