Os receios confirmam-se. A urgência de cirurgia geral do hospital de Mirandela mantém-se encerrada, situação que acontece desde o dia 8 de outubro, na altura justificada pela administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) por constrangimentos na elaboração de escalas devido à recusa da maioria dos médicos em realizar trabalho extra para lá das 150 horas e decidiu alocar os três cirurgiões que sempre estiveram afetos àquela especialidade, à urgência do hospital de Bragança.

Na altura, a administração adiantou que se tratava de uma medida provisória, mas agora já sem a greve dos médicos às horas extra, certo é que ainda não foi revertida e a administração continua a não esclarecer as razões para não reabrir aquele serviço de urgência de cirurgia geral. Ao que conseguimos apurar, junto de fonte hospitalar, os três médicos continuam a não estar escalados, assegurando apenas a cirurgia de internamente e as consultas externas.

Sendo assim, pelo menos, até ao final do mês de janeiro, os doentes que necessitem de ser vistos por um profissional de saúde daquela especialidade, ou que tenham de ser submetidos a uma intervenção cirúrgica urgente, vão continuar a ser encaminhados para o serviço de urgência do Hospital de Bragança

Esta situação vem aumentar os receios de que a medida deixe de ser provisória e passe a definitiva, até porque dois dos três especialistas, agora alocados a Bragança, já têm uma idade avançada (68 anos) e se não houver novas entradas pode estar em causa, em definitivo, aquela valência em Mirandela.

A reabertura dessa especialidade na urgência foi reivindicada por centenas de pessoas, no passado dia 25 de novembro, num cordão humano organizado pelo Município de Mirandela, com a autarca Júlia Rodrigues, a dar voz ao descontentamento temendo que a medida possa tornar-se definitiva e venha a prejudicar mais de 45 mil pessoas, dos cinco concelhos do sul do distrito de Bragança que recorrem àquela urgência (Mirandela, Alfândega da Fé, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Torre de Moncorvo).

SUCESSIVOS RUMORES DE DESCLASSIFICAÇÃO DA URGÊNCIA

Já não são de agora os rumores da possibilidade de “despromoção” do serviço de urgência do hospital de Mirandela, de Unidade Médico-Cirúrgica (UMC) para Básica.

Ao longo dos anos, tem existido constantes denúncias da Ordem dos Médicos de que esta UMC está a funcionar sem algumas das valências que constam da listagem obrigatória num serviço com esta classificação e com poucos recursos humanos,

Em Novembro de 2015, a população de Mirandela foi mesmo surpreendida com a publicação em Diário da República, de um despacho assinado pelo então Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, que dava conta da desclassificação da urgência médico-cirúrgica, passando a básica, no âmbito da reavaliação da rede nacional de emergência e urgência.

Uma semana depois, o ministro da Saúde fez saber que tinha havido “um engano”, garantindo que a urgência de Mirandela não fazia parte da lista de desclassificações.

A nota de correção foi dada a conhecer, no Portal da Saúde e a correspondente retificação foi publicada em “Diário da República”, referindo que o despacho tinha saído com “inexatidão”.

Oficialmente, o distrito de Bragança tem duas urgências médico-cirúrgicas (Mirandela e Bragança), criadas em 2007, depois dos SAP’s (Serviços de Atendimento Permanente) de alguns centros de saúde terem ficado com médico à chamada durante a noite.

Como contrapartida por esta situação, foi estabelecido um protocolo entre os presidentes de câmara da região e a ARS Norte para criar a urgência básica de Macedo de Cavaleiros e as médico-cirúrgicas de Bragança e Mirandela.

A verdade é que a administração dos hospitais nunca cumpriu os requisitos definidos. Das valências médicas obrigatórias, algumas delas nunca funcionaram em Mirandela, e outras apenas têm o serviço algumas horas. Facto que levou mesmo, a Ordem dos Médicos, no Verão de 2014, a solicitar à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde uma investigação sobre o funcionamento da urgência médico-cirúrgica do hospital de Mirandela, alegando que o serviço não tem os recursos exigidos para funcionar como médico-cirúrgica e por isso considera que os utentes estão a ser lesados.

Até agora não é conhecido qualquer conclusão sobre esta denúncia.

Jornalista: Fernando Pires

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