“Não se pode deixar cair no esquecimento”. O alerta é de Jorge Humberto Fernandes, da concelhia de Mirandela do Partido Comunista Português, e é com essa intenção que o também deputado da CDU na Assembleia Municipal de Mirandela tem realizado, desde dezembro, ações de contacto com as populações das aldeias afetadas pela retirada do comboio da linha do Tua, no âmbito do programa do PCP “viver melhor na nossa terra”.
No domingo, esteve em Frechas e no Cachão (concelho de Mirandela) e sentiu a indignação dos habitantes pela falta de cumprimento da principal contrapartida imposta pela Declaração de Impacte Ambiental, para compensar a construção da barragem de Foz-Tua – que já produz energia há mais de seis anos – e que submergiu 18 quilómetros da linha do Tua, onde o comboio deixou de circular, desde 2008, após o último de 4 acidentes com outras tantas vítimas mortais. “O objetivo é mesmo não deixar morrer isto, porque é um direito que assiste às populações e porque a linha do Tua faz falta à mobilidade desta gente e sentimos essa frustração da falta de cumprimento da promessa feita e não faz sentido que continue por implementar quando a barragem já está a funcionar há tanto tempo”, refere.
E Jorge Humberto Fernandes garante que este assunto “vai continuar a estar na agenda” do grupo parlamentar da CDU que for eleito nas eleições de 10 de março. “O que seria ótimo era nós conseguirmos eleger um deputado por Bragança para defender a defesa dos interesses das populações”, salienta.
O membro da concelhia de Mirandela do PCP já identificou os responsáveis pelo não cumprimento da implementação do plano de mobilidade do Tua. “Os culpados são a EDP, a agência de Vale do Tua, os autarcas que pactuaram com esta situação e o próprio governo”, diz.
Desde 2015 que se espera que o comboio volte a apitar entre as estações de Brunheda e Mirandela, mas nem o comboio estacionado na cidade do Tua anda, nem o barco atracado no cais daquela aldeia de Carrazeda levanta âncora. Há nove anos, o memorando de entendimento, entre a EDP, a Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (associação constituída pelos Municípios de Mirandela, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Murça e Alijó) e a empresa Douro Azul, agora Mystica SA, estabeleceu como obrigações do operador a concessão, construção de infraestruturas e instalações associadas ao sistema de mobilidade do Tua, fornecimento de equipamentos, da frota e do material circulante, a obtenção de financiamento e manter e explorar o sistema de mobilidade do Tua.
No mesmo acordo, a EDP assumiu uma contribuição a fundo perdido de 10 milhões de euros para alavancagem do projeto.
Em 2020, foram concluídas obras de estabilização dos taludes e reabilitação da linha, no valor de 5,6 milhões de euros, investidos pela Agência, obras consideradas fundamentais para a implementação do plano de mobilidade, mas até agora nada avançou.
Jornalista: Fernando Pires