Artigo escrito por Cláudia Fernandes – Emigrante na França, natural de Miranda do Douro
Falar de tradições de Páscoa é falar de família!
Sexta-feira Santa era e é sinal de dia de confeção do saboroso folar de enchidos e da deliciosa bola doce! O dia começava bem cedo, na preparação da massa para estas iguarias tão tradicionais das famílias – e a minha não era, nem é, exceção!
A confeção da massa e, posteriormente, a “montagem” do folar e da bola doce eram sempre supervisionadas pela “manda-chuva”, a matriarca da família… a avó Fátima, a minha Maria… (“não te esqueças disto, não te esqueças daquilo, olha que não é assim, põe mais enchidos, olha que a primeira camada da bola doce não pode ficar “rota” senão o açúcar sai, não comas chouriço que hoje não se come carne…”) Por vezes, estas ordens acabavam por nos tirar do sério, a nós, as mais jovens, mas muitas outras vezes arrancavam-nos tantas e tantas gargalhadas… Hoje sei que ela não o fazia por mal, era a maneira dela de nos ensinar para quando já não estivesse cá… Já não está fisicamente, mas continua connosco em cada momento partilhado, em cada conselho dado, em cada ensinamento deixado… Esta será a segunda Páscoa, a segunda confeção sem as suas ordens, sem o seu bom e mau humor, mas também sem as gargalhadas que nos arrancava com o seu jeito demasiado sincero e desconcertante de ser!
A confeção era importante, sim, se queríamos degustar estas iguarias nos dias seguintes, mas o mais importante eram os momentos partilhados, entre mãe e filha, primas, netas e bisneta!
Para mim, fora este dia, a segunda-feira de Páscoa era e é, de todo, o melhor dia: é dia de preparar um bom farnel e ir fazer um piquenique com a família no meio do monte, caso a meteorologia permita… Era e será sempre o dia de ir “comer o folar”!
Tradições simples que fazem toda a diferença na minha família – uma família como tantas outras… Família humilde, mas que, acima de tudo, só quer estar junta e passar estes e outros momentos unida!