Artigo de opinião escrito por Luís Eleutério – Licenciado em Enologia e Mestrando em Engenharia Agronómica (UTAD)
Uma sociedade está sempre em construção, é uma constante obra inacabada, apesar do conforto do conformismo, da tendência natural do ser humano para o conservadorismo, algo tem de mudar, de preferência para melhor.
São décadas e décadas de fuga de pessoas, sobretudo jovens, do Interior, tanto para as “metrópoles” do Litoral, como para o Estrangeiro, o desígnio é sempre o mesmo, “Uma vida melhor”. Uns vão estudar para “fora” e não regressam, outros vão à procura de emprego, outros de melhor remuneração, como tudo na vida uns terão mais sucesso que outros. Alguns escolhem voltar após alguns anos, outros escolhem voltar quando se aposentam, e há também os que não voltam.
Há casos que de forma totalmente inquestionável conseguem uma vida melhor, seja ela por valorização monetária, laboral, criativa ou pessoal, mas também há muitos que com umas “continhas” bem feitas iam constatar que estão a perder dinheiro e/ou outros valores não tão mensuráveis.
Goste-se ou não, um ordenado mínimo em Mirandela, vale mais que um ordenado de 1500€ no Porto, do que um de 2000€ em Lisboa, ou um de 3000€ em Londres. Não estou com isto a defender o ordenado mínimo, apenas a constatar que no final do mês esse mesmo ordenado mínimo teve acesso a mais que outros ordenados aparentemente melhores. Geralmente esquecemo-nos que o custo de vida é quem nos “trama” o salário.
Podemos sempre, defender-nos e dizer, mas no Interior os empregos são escassos, ou mal remunerados, ou mesmo que têm horários pouco compatíveis com uma vida familiar.
Por essa mesma razão cabe ao poder político local tornar os seus concelhos e regiões mais atrativos para estabelecimento de empresas, levá-las a aproveitar os recursos produzidos pelas instituições de ensino superior da região. Este trabalho infelizmente tem sido feito muito à base de “capelas e quintais” , os presidentes de câmara têm de se convencer que têm de trabalhar em conjunto.
Outro ponto e aí infelizmente, transversal ao País, nós portugueses perdemos a ambição, a boa ambição, a de querer mais e melhor para nós e para os nossos sem ser necessário prejudicar quem nos rodeia.
Uma geração inteira de empreendedores perdeu-se, e criou uma geração de funcionários, os filhos de comerciantes, pequenos industriais, produtores agrícolas, são hoje Médicos, Enfermeiros, Engenheiros Civis, Professores, Policias, profissões fundamentais, mas na sua grande maioria trabalhadores por conta de outrem, muitos deles com uma vida “pior” que a dos seus pais, mais sossegada e com menos preocupações talvez, mas menos ambiciosa e na grande maioria com remunerações bastante inferiores. Esta é uma daquelas situações em que “algum retrocesso” pode muito bem ter um efeito positivo.
A mudança de mentalidade que defendo, vai demorar anos a ter resultados, é uma mudança de pais para filhos, é voltar a tornar as nossas crianças “bairristas” não numa situação de “a festa da minha terra é melhor que a tua” nem nas “altercações entre clubes desportivos regionais”, não, defendo um “bairrismo” que leva a que os jovens vão tirar as suas formações para fora, trabalhar alguns anos par ganhar experiência, mas que voltem, que voltem porque a terra deles é melhor que todas as outras, que voltem porque sabem que fazem falta e porque podem fazer mais e melhor, que voltem porque precisamos de jovens adultos, e precisamos sobretudo de crianças, que voltem porque não querem deixar o Interior e a sua Terra definhar até “Morrer”!
Trabalhem de forma remota ou presencial, sejam médicos, enfermeiros, professores, arquitetos, engenheiros, jornalistas, policias, picheleiros, eletricistas, trabalhadores agrícolas, profissionais de turismo, etc, a vossa Terra precisa de Vós!
Voltem, mas voltem sobretudo porque querem!