Artigo de opinião escrito por Elói Santos – Técnico de comunicação

A expressão “dar uma ideia” presta um péssimo serviço à sociedade por ser vocabulário de uso rotineiro. Isto retira, sem que nos apercebamos e de forma sub-reptícia, o valor à “coisa”.

É claro que o reverso da moeda, curiosa expressão para usar aqui, é que as más ideias também não custam nada. Na verdade, podem ser, isso sim, penalizadoras. 

A facilidade e o imediatismo aparente dão a sensação de que basta ligar o interruptor e surge o conceito, quase como se de aparafusar um parafuso se tratasse.  O Taylorismo, a produção mecânica e em massa, continuam, um século depois do seu advento, a ser comuns no nosso dia-a-dia.  

Vem isto a propósito do cada vez mais discutido fenómeno que é a “semana de quatro dias”. 

É certo que o mundo não avança nem retrocede, apenas a nossa representação mental faz parecer que esses qualificativos são adequados. Com o digital, com a inteligência artificial, entre outros progressos, chamemos-lhes assim, a mão humana é cada vez menos necessária. Por outro lado, talvez o “cérebro humano”, passe-se o pleonasmo, seja mais importante que nunca. 

Como se mede o valor de uma ideia é assunto que os Recursos Humanos, Human Resources, gostam de resolver com o acrónimo KPI. As regras do “nacional-parolismo” obrigam que digamos key performance indicators, ao invés de indicadores de performance. 

O intervalo de tempo e o número de tarefas realizadas é método que não sairá de cena, apesar de estarmos perante um “admirável mundo novo”. Alguns órgãos de comunicação social e autores têm discutido temas tão fraturantes como o Rendimento Básico Incondicional ou a semana de 4 dias. É óbvio, cada vez mais, que os algoritmos vão substituir uma grande parte de nós no mundo laboral. E, por essa via, o elefante está na sala, e, com todo o desplante, está sentado no sofá a ver televisão. 

Medir o trabalho como no século passado é absurdo. Quase tanto como se tocássemos guitarra num funeral. Ou falássemos de corda em casa de um enforcado. O mundo do trabalho mudou e com ele apenas mudaram os conceitos que designam exatamente a mesmíssima realidade. 

O teletrabalho é, a meu ver, um mero analgésico para uma situação crónica. 

A ética talvez tenha nascido antes do trabalho, bem antes do sedentarismo que chegou pela mão com o advento do mundo agrícola. As ideias, como o vento, não se guardam no bolso. Libertam-se da caixa onde se crê que possam nascer e voam, quase sempre de forma desinteressada. Alguém, mais atento ou melhor posicionado, agarra-as e fá-las sair do domínio do intangível para o real. 

Assim nasceu a roda, assim nasceu a internet, assim nasceram Deus e o Diabo. Diz o povo, e bem!, que se não nascessem tinham de ser inventados.”

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