Artigo de opinião escrito por Katy Rodrigues – Consultora em Marketing, Turismo e Sistemas de Informação

Numa Era aclamada de quase normalidade, o setor do turismo volta a sentir a esfuziante sensação da dúvida a pairar. Em virtude das projeções do quadro económico nacional, até os menos curiosos se questionam, se turismo terá de reprogramar novamente o seu ADN ou assumir decididamente uma postura camaleónica. É certo que a retoma do turismo foi evidente e que os resultados de 2022 estão a ser francamente interessantes, colocando novamente esta indústria num patamar apetecível, mas que jamais esquecerá os quase dois anos em que se manteve em transe.

Nesta fileira, o alojamento local soube muito bem posicionar-se, sendo que a crise sanitária gerou oportunidades, todavia vinculadas a muitos desafios e também investimentos. É verdade que o maravilhoso mundo do alojamento local floresceu e que o Interior do país teve a oportunidade de se revelar e projetar (e quanto a isso, há certamente margem para mais dois artigos). Mas não seria de todo justo associar estes feitos a um simples golpe de sorte, sem assumir a efetiva profissionalização desta atividade. Se por um lado surgem novos perfis de turistas, como os nómadas digitais, entre outros interessados em estadias mid term, por outro, as comodidades do alojamento local encaixaram perfeitamente no preceito clean & safe e nas aspirações dos turistas, que rapidamente aderiram e recomendaram esta modalidade de alojamento, em todo o Portugal.

Entre sistemas de controlo de acessos com fechaduras inteligentes, requisição de serviços online (incluindo o próprio check-in), a oferta de um vasto leque de serviços complementares  e o recurso a software de gestão de topo, que otimizam e rentabilizam a perfomance dos negócios, os alojamentos locais passaram a promover a sua oferta, nos mais diversos canais de distribuição, do foro nacional e internacional. E assim sobressaiu das cinzas toda uma indústria que, hoje mais do que nunca, se questiona sobre o impacto da crise económica, que já se sente.

Em grosso modo, as reflexões que pairam incidem na continuidade da procura do mercado português (que foi a incontornável resposta à descida da procura internacional nos “anos Covid”), na alteração do regime jurídico da exploração dos estabelecimentos de alojamento local (onde se prevê a abertura do espectro das zonas de contenção e a revisão dos critérios de licenciamento e funcionamento), no impacto das taxas de juro para os investidores (que adquiriram propriedades com este fim, criaram infraestruturas e postos de trabalho)e, por fim, no impacto da inflação no custo operacional do alojamento (que terá de se refletir obviamente na subida das tarifas, quando se constata uma perca generalizada do poder de compra das famílias).

Perante tais circunstâncias, ouso afirmar que apenas o melhor destino do mundo e os players que o compõem terão a capacidade de se ajustar a um quadro de adversidades sem precedentes. Sendo que a louvável profissionalização do alojamento local produzirá novamente os seus frutos, sobrevivendo nem sempre os melhores (em termos de infraestrutura), mas com certeza os mais empreendedores.

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