Artigo de opinião escrito por Nuno Pires- direção do Estabelecimento Prisional de Bragança
Há dias… todos os dias… Há dias de muita coisa… que assinalam uma enorme diversidade de assuntos, temas e situações… Confesso que não sou um fanático nestes domínios e, por isso, não ando muito atento a efemérides ou às datas que assinalam isto ou aquilo. Mas não deixo, naturalmente, de procurar lembrar-me dos dias de aniversário de familiares ou de pessoas amigas mais próximas. Bem como nunca me esqueço dos dias de Festa na minha aldeia! Todos os anos, de 6 a 15 de agosto. Certinho e direitinho!
Reflexo dessa minha negligente e assumida omissão, neste contexto, é que nem me lembrava que no dia de S. José se celebra, também, o Dia do Pai…
Ser pai não é ser esquecido, antes pelo contrário. Mas, na verdade, não fora o facto de, pouco depois da meia-noite, ter tocado o telemóvel dando indicação de uma mensagem, certamente desta data, só me lembraria mais tarde. Ainda bem que, habitualmente, não me deito cedo, porque, assim, ainda pude ler a mensagem da minha filha a dizer: “Papá, adoro-te… Bom Dia do Pai”. Ainda faltava muito para amanhecer o dia, até porque ainda não me tinha deitado. Sei e senti que, na verdade, tenho uma excelente filha, que também adoro e que, sempre atenta, não se esquece das datas importantes. Não posso esconder que, de facto, prestes a ir para a cama, me caiu bem esta mensagem, acabando por sentir em mim um conforto emocional diferente, sobretudo porque, também, celebro este Dia do Pai como o primeiro na situação de avô. Como o tempo passa… Já sou avô! Um orgulhoso avô! Tenho uma neta linda, que já canta… que cativa, com energia, dá alegria ao viver e encanta!
Ainda que por outros motivos não existissem, estes dias levam-nos a refletir sobre a vida, a afetividade, a razão de ser e de sentir a nossa existência, reflexão essa que, talvez, não façamos com a necessária e salutar frequência. É que, sendo pai e avô, também sou filho de um pai vivo e de uma mãe que, apesar da idade, dos filhos ainda nunca tirou o sentido. Tudo isto leva-me a pensar no que foi, no que é e naquilo que será a vida. Vivenciadas de forma contínua e por etapas sucessivas, torna-se salutar pensar no que são as nossas vidas e como elas são sentidas. E, neste dia, redobro o pensamento nos meus pais, não esquecendo o sacrifício que fizeram para educar os filhos, os trabalhos e agruras que, ao longo dos seus noventa anos, já passaram, para agora, nos derradeiros anos da vida, viverem o desconforto emocional e afetivo de um Lar.
As condições da vida atual, infelizmente, são mesmo assim. Talvez algo cruéis, efetiva e afetivamente. Sustentadas nos desafios sociais e profissionais, com reflexos negativos na coesão familiar, acabam por se tornar incompatíveis com a cultura e os valores de proximidade do “LAR AFETIVO” dos nossos pais.
Jamais esquecerei o labor que, ao longo da vida, sempre exerceu. Eternamente vou lembrar o estado emocional do meu pai, num ambiente com conforto físico e logístico, é certo, mas com o qual ele nunca bem se deu.
Antes de terminar, não quero deixar de recordar as pessoas que já não podem felicitar o “seu pai”, sobretudo as crianças e jovens, nuns casos porque os progenitores já partiram para o “Pai”, noutros porque o abandono, o desleixo da responsabilidade paternal ou a pobreza levam a que este dia seja vivido sem o desejável conforto paterno e a inerente beleza.
E se a proximidade e a identidade natural, referencialmente positiva, com o pai, fica e sabe sempre bem, não posso também deixar de enaltecer e dar os parabéns a todas as mulheres que, de alma e coração, são obrigadas a protagonizar com entrega e idêntica devoção o duplo papel de pai e mãe.