Artigo de opinião escrito por Lídia Praça – Presidente da MEL – Mulheres Empreendedoras da Lusofonia

Contorci-me na cadeira e arregalei os olhos ao mesmo tempo que contraí o maxilar. Continuei a escutar: a fibromialgia é uma doença que transmite a informação de dor para certos pontos do corpo, mesmo sem que exista uma razão física para tal. Em termos científicos, significa que provoca uma dor crónica, não inflamatória, com origem desconhecida e que afeta 1 em cada 20 pessoas. Foi, mais ou menos, desta forma que em 2018 me foi transmitido o diagnóstico que deu, finalmente, enquadramento e significado às dores que enfrentava, quase diariamente, desde há 10 longos anos. Nos primeiros cinco anos, vivi o sofrimento num modo silencioso e depois entreguei-me, decididamente, a descobrir o que tinha e submeti-me a todos os exames médicos que entenderam realizar e que, durante anos, não me trouxeram qualquer boa notícia e a boa noticia era, por essa altura e tão simplesmente, ter um diagnóstico conclusivo que permitisse uma terapêutica eficaz dirigida à causa das dores. Ate que um dia, não sendo nem boa nem má, a notícia chegou!  

A fibromialgia é uma doença crónica caracterizada por queixas neuromusculares dolorosas. E agora? Perguntei. Agora vai ter de viver com a doença, sabendo, já por experiência, o quão incapacitante ela é. Sim, eu sei … e à minha volta, saberão? E sabendo, compreenderão o impacto destas dores invisíveis? Entretanto, desde esse dia, passaram outros cinco anos e, desenganando-me, a resposta que o tempo me trouxe foi negativa. Poucos, muito poucos, compreenderam a necessidade de mudar a minha vida para sobreviver com alguma vitalidade e ainda menos foram aqueles que fizeram parte dessa solução.

Porque é que eu, estando doente, queria e continuava a fazer coisas e não parava? Porque é que eu fazia tantas coisas e não fazia apenas o que alguns entendiam que era meu dever fazer? Sim, eu posso, finalmente, responder, desde logo porque a ciência também tem essa resposta. A vida não termina, só porque temos uma doença crónica muito, muito incapacitante. Eu aceitei viver com a doença, porque não podia ser doutro modo, mas mudei tudo o que foi preciso mudar para me adaptar à minha nova condição e viver em vez de, simplesmente, sobreviver. Sim, tive de promover mudanças pessoais e também mudanças na minha esfera familiar, social e profissional. Se foi fácil? Não, não foi, mas não tinha alternativa.

Há poucos dias, comprei um livro “MUDAMOS PELO QUE FAZEMOS” e na dedicatória o seu autor escreveu “(…) porque a vida é o que fazemos com o que nos acontece. Um abraço estóico”. Repeti, mentalmente, várias vezes esta mensagem, tentando decifrar cada palavra, mas sabendo que todas e cada uma delas davam significado ao sofrimento que carrego e carregarei, porque tenho uma doença crónica. Um abraço estóico? Interroguei-me. Sim, estoico, porque o estoicismo, uma doutrina filosófica da Grécia Antiga, estrutura-se no conhecimento e concentra-se em tudo aquilo que pode ser controlado pela pessoa. O estoicismo ensina o homem a manter uma mente calma e racional, independente do que aconteça. Eu tenho, como todos temos, emoções, mas não posso ser prisioneira delas, porque a vida e as circunstâncias, por muito que nós gostássemos, não são nem ideais nem idealizadas. A vida é para ser vivida a partir do que ela é e não do que deveria ter sido ou do que poderá vir a ser.

E agora? Agora, vou continuar a focar-me na vida prática, nas ações e nos acontecimentos do dia a dia e tentar, cada vez mais, lidar com eles racionalmente, porque a dor vive comigo, mas eu não sou sua refém. Eu sou a pessoa livre que está no espelho e, como diria Edward Hale, “não me vou recusar a fazer aquilo que consigo fazer, apenas por não poder fazer tudo”.

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