Artigo de opinião escrito por Luís Eleutério – Licenciado em Enologia e Mestrando em Engenharia Agronómica (UTAD)
Durante este mês de março, tive o prazer de ir falar de agricultura com crianças da 3ª e 4ª classe do Colégio Nossa Senhora do Amparo em Mirandela, e não foi de uma agricultura qualquer, foi de agricultura biológica. Os temas abordados foram a importância da biodiversidade, passando pela não mobilização do solo, à compostagem, à importância que têm os auxiliares no combate a pragas, terminando na consociação de culturas (culturas companheiras que se ajudam umas às outras a repelir pragas).
Poder-se-ia pensar que seriam temas complexos demais para eles, mas não foram, nós adultos temos a mania de subestimar a capacidade de compreensão e o conhecimento que as crianças têm do Mundo e dos problemas que nos afetam. Obviamente que não têm a capacidade para formar argumentos complexos e que lhes falta profundidade sobre muitos assuntos, mas têm outras coisas que nós já perdemos e que tanta falta nos fazem. E posso garantir que perceberam muito mais a importância destes temas e o porquê do que muitos adultos o fazem/fariam.
A primeira é a beleza da inocência com que falam de qualquer assunto, sem medo de errar, sem medo de perguntar e de intervir, a segunda é a maneira como fazem interligações entre as temáticas e também com assuntos do dia-a-dia, enquadrando as coisas de uma forma tão simples que abala a nossa “complexidade de adultos”, e a terceira é a “sede com que bebem” da fonte do conhecimento, nota-se tanto no olhar, como nos pequenos gestos e principalmente no entusiasmo com que comunicam.
Espero sinceramente que com esta minha “aula” lhes tenha plantado uma pequena semente de que é possível fazer mais e melhor neste ramo que é a agricultura. O melhor ficou para o final da “aula” quando uma criança me veio dizer que já sabia o que queria ser quando fosse grande, queria ser agricultor! Obviamente que não quer dizer que de facto o faça, mas pelo menos significa que gostou do que ouviu! Aproveito para lançar o desafio a todos vós, vão falar da vossa profissão/formação a uma sala de aula com crianças desta faixa etária e espero que saiam de lá tão “realizados” quanto eu!
Sendo as crianças o melhor do mundo, e o nosso futuro, porque é que enquanto sociedade não lhes criamos um ambiente que os faça explorar todas as suas forças, mas também os seus anseios, porque não lhes entregamos um País melhor? Se gostamos tanto deles porque não nos esforçamos mais? Porque nos contentamos nós com a mediocridade, é que eles não se contentam com isso!
E já agora, porque não temos mais crianças? Porque não existem políticas de Natalidade que se possam considerar sérias? Que desculpas esfarrapadas temos para não ter mais?
Penso que este debate devia ser feito em dois momentos, primeiro na Assembleia da República, onde pode ser de facto feito muito mais. Lanço algumas ideias minhas, a primeira seria abono para todos, um só escalão, outro caminho seria a isenção de 50% de IRS a partir do 2º filho, e aumentando essa isenção mais 25% por cada novo filho até obviamente ao máximo de 100%. Isto sim seriam políticas de Natalidade com relevância, não são “cheques” municipais de 500€ que levam alguém a ponderar ter mais um filho. Quem quer ter mais um filho muitas vezes tem de fazer contas, uns retraem-se, alguns esperam anos para avançar, outros dizem “que se lixe” e vão em frente!
O segundo momento de debate seria na Sociedade e em grande parte também na nossa consciência, seremos assim tão egoístas/egocêntricos que não concebemos abdicar de um pouco de consumismo/materialismo para ter uma criança ou mais uma criança? Será a matemática da vida mais importante que um pouco de biologia e filosofia? Abdicar de um pouco de “nós” será assim um sacrifício tão grande? E por muito que seja saudável existirem cães e gatos no seio familiar ou singular também aqui as pessoas têm de se convencer que um animal, e por muito que se goste dele, não é, nem substitui uma criança.
A grande realidade e infelizmente acontece demasiadas vezes, 20/30/50 € num mês fazem muita diferença a um casal, outras vezes é o pânico que existe de não se conseguir dar a “vida” que se queria/ambicionava às nossas crianças, mas mentalizem-se que elas querem bem mais amor que “coisas” … Por tudo isto e por muito mais, são precisas medidas concretas que facilitem as decisões aos casais, pois pelo menos dessa forma acabamos com grande parte das “desculpas”!
Já agora lembrem-se que sem as crianças de hoje, não existem as reformas/pensões de amanhã! Não existirá economia, saúde nem segurança. Não podemos “importar” tudo, também temos de começar a “produzir”!
As crianças são de facto o “melhor do nosso mundo”, precisamos de lhes dar as armas para eles fazerem o que nós não temos capacidade ou força para o fazer, as armas que lhes temos de transmitir são educação, a importância dos sentimentos/emoções, a liberdade, o conhecimento e fomentar o pensamento crítico para serem eles a fazer o que tem mesmo de ser feito!
Para ganhar uma guerra precisamos de um pequeno exército, mas se queremos mudar o mundo, precisamos de um exército de pequenos!