Artigo de opinião escrito por Lídia Praça | Presidente da MEL – Mulheres Empreendedoras da Lusofonia

Esta semana chegou às livrarias mais um título “Há lugares de onde nunca mais se volta”, um livro onde regresso ao tema da lusofonia, esse espaço imaterial de amor, da mulher e da liberdade, mas não é sobre ele que eu hoje venho aqui tratar Antes, aproveito a oportunidade para refletir sobre os desafios que, atualmente, se colocam aos livros.

A leitura está na base do que somos e o acesso à leitura é, ou deve ser, um direito universal garantido pelo poder político. Isto porque a literatura é um antídoto, talvez o melhor antídoto, contra a intolerância e o preconceito. Segundo um estudo recente, mais 750 milhões de pessoas no mundo não sabe ler, nem escrever. Dois terços deste número são mulheres. Ora, este facto, só por si, já deve ser motivo de preocupação e fazer-nos refletir seriamente, individualmente, mas também enquanto coletivo com responsabilidade social.

O livro é desde sempre um alimento que nutre em igual medida a saúde física e mental. Todavia, o livro tradicional, convencional ou em papel deixou de ser um objeto de amor. O que fazer, então, quanto a isto? Quando a nossa perceção nos diz que o nosso alimento é o amor e o livro parece ter perdido a capacidade de nos nutrir? Inevitavelmente, hoje já estamos a discutir o futuro e, desde logo eu tenho uma certeza: de que não podemos parar o progresso. A inteligência artificial é uma realidade, assim como os livros digitais. E aqui, como em tudo na vida, a melhor forma de entender as coisas é experimentá-las primeiro e ajuizar depois, com prudência, sem qualquer tentação de juízos antecipados e imponderados. Não estamos a começar hoje e o livro, ao longo de muitos séculos, já fez um grande caminho. Por isso, se estamos a falar do futuro, temos de ser otimistas, porque só o livro (ou só a leitura) nutre a inteligência e a imaginação. A literatura será sempre um espaço de liberdade e entusiamo, condensando em si o poder e o dever de transformar o mundo.

Acredito que o livro, independentemente do seu formato, continuará a ser um espaço de resistência à voragem da vida. O livro é um condutor de tempo. Tempo para dialogar com passado, para o ligar ao presente e ao futuro. Exige entrega a um método de degustação onde a pressa deve ser alheia ao andamento da leitura ou do processo criativo. Exige que o leitor se demore em cada revelação e em cada experiência sensorial. Exige que o leitor caminhe devagar em direção ao fim da história. Os livros são portais para a realidade, mas também para o imaginário, onde cada um encontra reflexos de si próprio, permitindo-lhe viver o que não viveu, quer do ponto de vista do tempo, do lugar ou do lugar de classe.

O mundo está a mudar e os livros também. Hoje querem-se livros como o mundo em desenvolvimento: inclusivos e sustentáveis. Inclusivos, no sentido de serem o garante da diversidade e de suscitarem uma oferta tão rica quanto a representatividade social e sustentáveis na perspetiva da proteção ambiental e da prevenção da crise climática, o que nos levará à inevitável discussão dos livros digitais e da necessidade de um certo “renascimento” da indústria editorial.

O livro não está a morrer, talvez tenha chegado só a hora de virar mais uma página da sua história.

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