Artigo de opinião escrito por Agostinho Beça
« – Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
- E isso importa?
- Mais do que a própria guerra.»
Talvez nunca este pensamento do grande Ernest Hemingway, em “O Adeus às Armas”, tenha feito tanto sentido como nos tempos que correm…!
[Nota prévia: aos leitores mais suscetíveis fica um pedido de tolerância e compreensão pela ironia posta neste texto, que não pretende ser mais do que uma pequena sátira sobre alguns comportamentos comuns a todos os grupos e movimentos políticos da nossa praça e inerentes à condição humana.
Por outro lado, se mesmo o respeitabilíssimo Papa Francisco, no encontro que promoveu com humoristas de todo o mundo, disse aos participantes: “Vocês denunciam os excessos do poder; dão voz a situações esquecidas, evidenciam abusos, apontam comportamentos desadequados” e sustentou que “a linguagem do humor é apropriada para entender e “sentir” a natureza humana”, porque não havemos de o fazer também nestes nossos despretensiosos e humildes textos?]
Pois bem, chegados a estes momentos de pré-campanha eleitoral autárquica, mandam os cânones do planeamento estratégico político-partidário e/ou de quaisquer outros movimentos cívicos protocandidatos ao exercício do poder na governança autárquica, que os líderes escolham e “recrutem”, nas suas hostes, o que julgam ser os melhores “soldados” e as melhores “soldadas” para as trincheiras dessa “guerra”, relegando para segundo plano os supostamente medíocres ou menos capazes.
E é aqui e agora que aparecem umas figuras sui generis:
– Os “Acho-que” …
Isso mesmo! Em dada altura das campanhas eleitorais, surgem, invariavelmente e em todas as forças políticas e partidárias das candidaturas, uma espécie de estrategas-de-vão-de-escada ou do-fundo-do-quintal a que podemos chamar os “Acho-que”.
Costumam aparecer vindos do nada, “achando que” isto ou aquilo devia ser feito assim ou assado, que este ou aquele assunto já devia estar tratado, que “não há organização nenhuma…!”, que “andam todos a fazer o mesmo…!”, que “andam a navegar à vista”, opinando com muita propriedade e convicção sobre a campanha e a melhor forma de a conduzir, sobre o planeamento, a estratégia, as diligências feitas e não feitas, a ponto de quase conseguirem fazer passar por completos idiotas e mentecaptos os membros das equipas responsáveis pela organização das diferentes ações e atividades.
Mas, na verdade, revelam desconhecer em absoluto as exigências de cumprimento escrupuloso das normas legais, nomeadamente as que são impostas pela Comissão Nacional de Eleições (CNE). Mostram até desrespeito e a maior ignorância sobre essas regras, simplesmente porque “acham que”, sem cuidarem de fundamentar minimamente esses seus “achamentos” …
Ah… e sabem fazer juízos, com muita profundidade, sobre o caráter e os comportamentos dos que, paulatinamente, vão tentando levar por diante as tarefas nem sempre fáceis.
E assim vão indo as campanhas eleitorais autárquicas por esse país fora …!
Os “Acho-que” são, de facto, seres interessantes, porque se julgam infalíveis e detentores de um conhecimento superior sobre todas as matérias; nunca têm culpa de nada e geralmente escapam incólumes, pela simples razão de que não se atrevem a assumir quaisquer responsabilidades na organização seja do que for…
Circulam nas franjas do acontecimento, nunca mostrando disponibilidade para saírem da sua zona de conforto e resolverem situações complexas e/ou menos agradáveis.
Abordam as pessoas iniciando as frases com um categórico “Eu acho que…” e vão debitando palpites sobre tudo e mais alguma coisa… e percebem imenso sobre o eleitorado, conseguindo mesmo antever os resultados da eleição …!!!
Os “Acho-que” são deveras importantes nas equipas das candidaturas e extremamente úteis, porque nos fazem perceber melhor a essência humana, enfim… a dimensão maior do indivíduo… Também podemos, com igual legitimidade, “achar” que são uma “força da natureza” …! Para os candidatos cabeças-de-lista é ótimo estar rodeado de uma corte de muitos desses elementos!
Depois das eleições continuam a opinar e consideram-se ainda suprassumos! Sejam quais forem os resultados do sufrágio, eles sempre “acharam que” e afirmam peremptoriamente: “Eu bem disse…!” Assumem-se, assim, como quase profetas e, por vezes, tornam-se um certo tipo de “Vozes-do-Além”, no período pós-eleitoral.
E é então, nesta fase, depois de conhecidos os “vencedores”, os “vencidos” e os “assim-assim”, que aparecem, outras interessantes figuras:
– Os “Resolve-tudo” …
Estes são um pouco mais refinados, com requintes de alguma malvadez e com tiques de uma pretensa lucidez avassaladora! Normalmente têm origem no seio dos grupos que nunca ganham eleições, mas podem também resultar do fenómeno da metamorfose dos “Acho-que” derrotados …
São os que ficaram “de fora” e agora, inconformados, desconsolados e algo revoltados, rebuscam os mais estranhos argumentos para afirmarem, com insistência, que quem conquistou o poder, está a fazer mal isto e aquilo, que devia ser assim ou assado, que já deviam ter cumprido esta ou aquela proposta eleitoral… e por aí adiante…
E assim se perpetuam estes “seres” fantásticos, que são os “Acho-que” e os “Resolve-tudo”…!
Fiquemos atentos!
Eles não tardam a andar por aí…!