Artigo de opinião de Elói Gouveia Santos – Técnico de Comunicação

Os cavalheiros que querem resolver os problemas do país através de um programa de 9 páginas beneficiam, também aqui, do chamado efeito Streisand. Resumidamente, trata-se de fazer de um assunto sem atenção mediática, um tema em evidência.

Sou dos que pensa que, do ponto de vista da “sociedade-espetáculo”, é bom que a boçalidade tenha representação. Dispõe bem e expõe ainda melhor.

O cavalheiro Ventura, demarca-se agora do seu passado enquanto ex-comentador de futebol. A ingratidão não é muito católica, mas enfim. 

Na cómica analogia de Francisco Rodrigues dos Santos, que resultou num vídeo de campanha, a IL é a “prima modernaça”. Creio que não. A IL, com uma comunicação diferente, disruptiva e continuada, conseguiu ser urbana. A “prima modernaça” sabe usar os talheres e é daquelas que acredita que podemos confiar na autorregulação do mercado e na mão invisível de adam Smith. No mercado (o tão famoso mercado) dos votos, tem sabido posicionar-se.

Jerónimo de Sousa quis, para utilizar a sua técnica de aforismos, “sol na eira e chuva no nabal”. Mantendo a identidade, não mudando a táctica perante circunstâncias diferentes, colheu aquilo que semeou.

Catarina Martins, com uma renovação visual, não conseguiu livrar-se do ónus da antecipação das eleições. 

Quanto ao elefante na sala: ninguém quer alimentar o monstro, mas qual a maneira para abordar a questão? Expor a sua mediocridade? Não o mencionar? Deixá-lo vitimizar-se? 

O evangelho segundo senhor Bannon (Steve) é seguido quase à letra, com um ou outro pecadilho. Os fins justificarem os meios é arenga por todos nós conhecida há muito tempo.

O populismo alimenta-se de lacunas. De falhas da democracia, que as tem. Depois faz delas alarde.  Aproveita o medo, a insegurança e, muitas vezes, a ignorância. Se é preciso mentir, mente, como bem prova o famoso “apoio” do Papa Francisco a Donald Trump.

Mas que fazer, afinal? Fazer o que o Barcelona de Cruijff fez: ter bola a todo o tempo, ou seja, ser dono da iniciativa, fazer inexistir perigos. Cuidar da segurança, da saúde, e de outros temas sensíveis, com eficácia. Deste modo, calar-se-ão os brados. 

Prossigamos. 

Quis o destino que Rui não risse por último. Pode não ter havido gato por lebre, mas que houve muita lebre a fugir do gato, parece evidente. Neste particular, a Acácia (coelhinha do cavalheiro Ventura) tirou uns votos ao famoso Zé Albino.

Quem esteve perto das lágrimas e do RIR ao quase não eleger deputados foi Inês de Sousa Real. A quadratura do círculo continua a ser um problema por resolver.

Não me atrevo a classificar a atuação de António Costa, depois da lisura com que Luís Paixão Martins explicou a estratégia eleitoral. Permanece incompreensível gestão da comunicação de crise feita no chamado “caso Cabrita”.

Um outro fenómeno, paralelo às incidências políticas tem assumido um cariz burlesco. João Miguel Tavares, com a sua boa disposição, parece querer divertir-nos a todos, na sua demanda pelas causas justas a que se dedica. No mundo encantado de JMT, outrora jornalista, hoje caçador de visualizações, e partilhas (a vida custa a ganhar), António Costa não venceu. Anseio pelo dia, espero que esteja próximo, em que JMT nos venha anunciar que não existe aquecimento global. 

Todos merecemos um JMT nas nossas vidas. Afinal perdemos, mas não perdemos. A privatização da empresa x, escolha uma a gosto, foi danosa, quando na realidade, num mundo à imagem de JMT, não foi bem assim. 

Como diz o outro: tenho os meus princípios. Se não gostarem, troco-os.

Por fim, o caráter salvador e maniqueísta que os partidos assumem, assemelha-se ao que podemos observar nos clubes de futebol. De um lado, evidentemente o nosso, os bons. Do outro, os maus. Haverá meio-termo? Poderá a qualidade da democracia aumentar? Bem sabemos que à mulher de César, ao político, não basta ser séria. E em tempos de tanto escrutínio, isso é ainda mais verdade. A seriedade, por si, também não resolve tudo. É preciso o valor das ideias, a inteligência e, claro, visão. 

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