Artigo de opinião escrito por Tiago Morais – Licenciado e Mestre em Biotecnologia pela Universidade de Aveiro, estudante de Doutoramento em Química na Universidade de Aveiro e Háskóli Íslands (Islândia), conselheiro do Conselho de Ética e Deontologia da Universidade de Aveiro e coordenador do Núcleo Territorial da Iniciativa Liberal em Mirandela

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas há algo que não muda nunca: o esquecimento e a desvalorização do Interior por parte dos sucessivos governos e governantes. Décadas de políticas centralistas e um país dividido a meio onde quem sofre são sempre os mesmos: nós! Apesar de a culpa ser repartida entre PS e PSD, a fatia maior dessa culpa está sem dúvida entregue aos socialistas.

O que pode ser feito para desenvolver o Interior?

Reforma do sistema eleitoral

No interior, tudo que não sejam votos nos maiores partidos são votos que vão diretamente para o lixo. Chegam as eleições e começam as cantigas do voto útil. Mas como podem os habitantes do Interior estarem limitados a votar apenas nos partidos que os têm prejudicado? A Iniciativa Liberal propôs uma reforma do sistema eleitoral (Projeto de Lei 940/XV/2) que foi chumbada por PS, PSD e PCP… Certo é que esta reforma ia fazer o PS e PSD perder alguns deputados, mas não deveria interessar ter uma democracia mais justa e representativa em primeiro lugar?

Criação de infraestruturas

Sem investimento em infraestruturas de qualidade, torna-se difícil atrair o tecido empresarial, atrair novos habitantes para o interior e fixar quem cá nasceu e cresceu. Veja-se o exemplo do Fundão, uma terra do Interior no distrito de Castelo Branco, onde o Investimento em Infraestruturas fez com que ganhasse o prémio europeu de inovação territorial (2018) por ter atraído 14 empresas tecnológicas (algumas delas multinacionais) e gerado mais de 500 empregos altamente qualificados. À data de 2022, mais de 1000 engenheiros tinham escolhido o Fundão para viver. Dentro das novas infraestruturas destacam-se, por exemplo, o Centro de Negócios e Serviços Partilhados, uma incubadora e aceleradora de startups, um Fab Lab certificado pela rede mundial, Centro de Formação Avançada, Centro de Biotecnologia de Plantas, Centro de Validação e Certificação de Software, etc. Tudo isto é possível e por isso pergunto: o que impede Mirandela e outras cidades do Interior de crescer?

Zonas Económicas Especiais (ZEEs)

O que são as ZEEs? Zonas com vantagens fiscais e com burocracia diminuída, para atrair investimento direto estrangeiro, promover a criação de hubs empresariais e facilitar o crescimento económico. Com esta medida tentar-se-ia transformar o interior numa zona atrativa para empresas, permitindo não só a chegada de novas, como o crescimento das já existentes.

Descentralização

Deve ser feita a transferência para fora de Lisboa de diversas sedes de organismos públicos, de forma a criar novas oportunidades de carreira noutros pontos do país onde se inclui o Interior. Como exemplo, a Iniciativa liberal propôs já a mudança da sede do Instituto da Vinha e do Vinho de Lisboa para o distrito de Vila Real e a da Direção-Geral do Território de Lisboa para o distrito de Bragança.

Ensino Superior

O Ensino Superior é um importante promotor de transformação e inovação, e têm de ser tidos em conta na (r)evolução que o Interior necessita. Os municípios têm de ser capazes de desenhar estratégias conjuntas com as instituições de Ensino Superior mais próximas de forma a fixar os jovens que por lá se formam. É também extremamente relevante dignificar o ensino vocacional, técnico e profissional e enquadrá-los nesta estratégia.

Governantes locais fortes

Parece a menos importante mas tem um grau de importância elevado. O Interior precisa de governantes locais fortes, sem medo de bater o pé ao governo nacional atual, seja qual for a cor partidária que governa. Os governantes locais têm de se lembrar de pôr os munícipes primeiro e o partido muito depois. Foram os munícipes que os elegeram, logo são eles que têm de ser representados e defendidos. Estamos cansados de jogos políticos, de demonstrações de força fora de tempo e abraços em alturas seletivas.
Estas são apenas algumas das medidas que podem alavancar o crescimento do Interior. Haja vontade de mudar por parte dos nossos habitantes ou coragem do atual e próximos governos para pôr tudo isto em prática.

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