Artigo de opinião escrito por Nuno Pires- direção do Estabelecimento Prisional de Bragança
Sempre entendi que a atividade política deve ser um nobre exercício de cidadania e um singular exemplo ao nível da formação cívica, da educação, da honestidade e do respeito pelo “outro” e pelos seus valores, sobretudo pelos eleitores, numa perfeita sintonia e convergência de promoção da urbanidade, da motivação e do bem-estar, individual e coletivo, de forma transversal e inequívoca.
Também sempre entendi que, para poder usufruir de um equilíbrio constante nas inúmeras funções que desempenha, o corpo humano é dotado de dois braços, duas mãos (direita e esquerda), duas pernas, dois pés, dois olhos, dois ouvidos, dois rins – órgãos que, além de se complementarem, trabalham em harmonia/sintonia perfeitas, no sentido de potenciarem a vida saudável, com a alegria e a felicidade desejável. Não admira, pois, que uma pessoa fique limitada, por exemplo, quando lhe falta uma das pernas, das mãos, dos braços, seja direita ou esquerda.
O funcionamento do corpo humano será, pois, um exemplo inequívoco de como a sociedade e as suas organizações deveriam funcionar em prol do bem universal, equilibrada e harmoniosamente, no sentido comum de, com vida, gerar vida saudável, sustentada na verdadeira obra de arte do Espírito Criador.
Por isso mesmo, fico algo perplexo e até desapontado, quando na disputa política, se assiste a protagonismos exacerbados de perfeito egocentrismo, pessoal ou corporativo e de uma doentia auto-estima, que metem dó; mas que se usa, apregoa e até, incompreensivelmente, se aplaude, como se estivesse em causa o mais elevado sentido da procura do desenvolvimento de uma sociedade, ou de um estado.
Pelo que é possível constatar, sobretudo em tempos de pandemia e da incerteza da sua evolução, de azáfama política, na obcecada disputa por um lugar para nos (des) governar, sobressai a ideia de que há líderes que se preocupam mais – muito mais – com a sua própria pessoa, diria mesmo, sobrevivência política, do que com o BEM e a SALVAÇÃO da NAÇÃO!…
Preocupam mais com o derrotar a direita, ou vice-versa, do que cooperar construtiva e positivamente na convergência de programas, ou projetos de governação, que promovam o verdadeiro e eficaz combate à pandemia e aos seus nocivos efeitos, o desenvolvimento educativo, económico, social e cultural do país, não esquecendo a soberania e sustentabilidade alimentar. O que mais interessa é derrotar, ou evitar que o outro (neste caso, direita ou esquerda), ganhe importância e venha ocupar o poder, mesmo que, para isso, seja necessário renegar hoje, os princípios e as filosofias de ontem. Que tristeza, que diplomática forma de enganar compatriotas convencidos de que o verdadeiro e genuíno sentido de estado e exercício da atividade politica seria a preocupação com as pessoas, com o seu bem-estar, na resolução dos problemas que, no dia a dia, as afligem, lhes amputam horizontes de um futuro mais risonho e, consequentemente, objetivos de vida.
É, pois, lamentável que não se procure, educada e saudavelmente, um constante diálogo construtivo e construído na base da escuta e do respeito, entre as forças políticas, demonstrando capacidade de se aperfeiçoarem na abertura, no acolhimento, em prol da comunhão, tendo como objetivo o desenvolvimento integral e sustentado desta histórica Nação, mantendo e promovendo a esperança de um Portugal mais fraterno, solidário e respeitador das suas responsabilidades, sem esquecer o seu passado. É que muito mais importante do que a esquerda, a direita, ou o centro, ou mesmo o protagonismo efémero de políticos, são as pessoas, a sua saúde, a sua qualidade de vida, o seu futuro, a sua alegra, é Portugal!…