Artigo de opinião escrito por Lídia Praça | Presidente da MEL – Mulheres Empreendedoras da Lusofonia
A 50 dias dos 50 anos do 25 de Abril começo a sentir uma gradual progressão de saudade e de esperança, que prospera a cada dia, na proporção inversa da emocionante aventura, que é esta contagem decrescente do tempo.
Amanhã só já estaremos a 49 dias, penso e estremeço, porque não consigo pesar este tempo e apenas sinto que estes 50 anos passaram depressa demais. Há cinquenta anos eu era uma criança e vivia num país, neste meu país, em ditadura. Se tenho memórias? Sim, tenho. Se senti medo? Sim, senti o medo nos adultos que me rodeavam. Se os meus filhos sentem o 25 de Abril como eu sinto? Não, não sentem, nem podem sentir. Quem já nasceu em liberdade, não sente a falta do que sempre teve. Mas é importante, por um lado, ter o conhecimento da história e, por outro, criar a consciência de que a liberdade nunca está definitivamente conquistada, exigindo-se, por isso, a cada um de nós uma vigilância permanente e apertada.
Estamos a 50 dias de celebramos o 25 de Abril de 1974, o momento libertador, que começou por ser um breve instante de coragem e de loucura. E, para nós, tudo começou assim: “Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas…“. Era o primeiro de muitos comunicados dos militares que fizeram o 25 de Abril e que foi lido pouco depois das 4 da manhã, no Rádio Clube Português, pelo jornalista Joaquim Furtado que se encontrava de serviço nessa noite, quando viu os estúdios tomados por oito militares. Um instante, pelo qual o nosso povo esperava há muito e que alguns dos nossos militares, igualmente, há muito tempo preparavam na clandestinidade. Foi nesse dia 25 de Abril de 74, que Portugal mudou profundamente.
Foi um momento disruptivo entre o passado e o presente. Um momento continuado pelos cinquenta anos que se seguiram e que daqui a 50 dias assinalaremos, com orgulho pelo que se fez e, também, com a responsabilidade de preservarmos e fazer preservar o legado que queremos deixar.
O Movimento das Forças Armadas, um movimento de um grupo de militares, então, conhecido como Movimento dos Capitães iniciou, nesse dia, uma ação que pós fim aos 41 anos de ditadura do Estado Novo. O dia 25 de Abril foi o dia do evento libertador, é certo, mas o dia seguinte … os cinquenta anos que se seguiram, todos os dias foram dias de luta e de conquistas.
Designadamente, criaram-se condições para encontrar uma solução política para a guerra colonial e construi-se um regime político assente na Democracia: constitucional, representativa, direta, social, defensora da separação de poderes e do primado da lei. Todavia, a democracia não é um regime perfeito, desde logo porque é uma construção política do Homem e é prosseguida e exercida por homens e eles, já sabemos, não são (não somos) seres de perfeição.
A democracia também não é o destino, mas a viagem e por isso, em face de constrangimentos, mudanças, desvios, alterações várias, tantas vezes, nesta caminhada, é necessário, com mais ou menos intensidade, impor correções para, então, continuarmos no caminho desejado de uma sociedade livre, igual, inclusiva, justa, solidária e desenvolvida. Uma sociedade que acima de tudo, não esqueça as gerações mais jovens. Uma sociedade que não permita que um em cada três jovens, nascidos em Portugal, deixe o seu país. São jovens, maioritariamente com formação superior e esta demografia só é compensada pela imigração que o país recebe em termos de número, mas não ao nível da formação. Saem recursos qualificados, saem quadros qualificados e, em contrapartida, entra apenas mão de obra. Ora, este desequilíbrio, a prazo, terá impacto no desenvolvimento do país. A 50 dias dos 50 anos de Abril é tempo de criar condições para que esses cerca de 850.000 jovens, que emigraram, regressem a Portugal. É urgente continuar a cumprir Abril. Vamos cumprir o que ainda falta de Abril!