Artigo de opinião escrito por Cristina Passas – Consultora


É verdade que há o dia internacional para tudo e mais alguma coisa, mas todos têm os seus propósitos e assinalam feitos e registos internacionais que precisam e devem ser lembrados, reforçados numa sociedade global que vive “em velocidades” e realidades estrondosamente díspares e que devemos promover os propósitos de mitigar as injustiças face aos Direitos Humanos plasmados na Declaração Universal proclamada pela Organização das Nações Unidas, ONU. 

Assim, o Dia 19 de Novembro é para mim e para todas as Mulheres particularmente, importante, porque a Organização das Nações Unidas celebra ao Dia 19 de Novembro do Dia do Empreendedorismo Feminino, (também conhecido como WED que significa WomensEntrepreneurship Day) reconhecendo-lhe o potencial que alinhado com OCDE buscam alcançar a igualdade de género e empoderar as Mulheres e Meninas que serão as Mulheres do Futuro. 

O dia comemorativo tem como missão promover o aparecimento de novas iniciativas que apoiem e inspirem a presença de mulheres no mundo dos negócios, em carreiras de gestão de topo, nomeadamente em áreas ainda de preponderância masculinas e fomenta a reflexão da Igualdade de Género e Oportunidade, pois por muito que a comunidade, nomeadamente masculina, considere por vezes que a desigualdade e diferença de empreender nos negócios e nas áreas ainda de preponderância masculina seja uma realidade que já foi mitigada, os estudos e as estatísticas continuam a provar que por muitos avanços que já se tenham alcançados as desigualdades ainda existem, persistem e muitas barreiras têm de ser ultrapassadas e “quebradas”. 

Ora vejamos, quantas gerações de atletas femininas tiveram de batalhar duramente para que hoje, o/as adepto/as quando enchem um estádio de futebol vibrarem como a mesma intensidade sejam porque estão a apoiar a seleção feminina do seu país ou a masculina… Hoje sim, começa-se a sentir essa vibração, mas foi necessário a resiliência de centenas e centenas de atletas femininas pelo Mundo fora que sem apoios, sem altos patrocínios nunca deixaram de acreditar… Sem salários milionários nunca desistiram, este é um exemplo e hoje verificamos que todos os clubes regionais promovem secções de futebol feminino, não porque está na moda, mas, porque a sociedade mudou, ajustou a inconformidade de quem nasceu com a paixão do futebol seja menino ou menina, mas sejamos justos e honestos, há quantos anos!? Recordo-me, ainda, que 2021, segundo o Jornal Record, o Juízo Local de Pequena Criminalidade do Porto confirmou o pagamento de uma coima de 750 euros ao adepto que insultou uma arbitra assistente no encontro entre o FC Foz e o Panthers Force, da 1.ª divisão distrital de Iniciados (sub-16). O adepto, que era, pasme-se, médico de profissão, foi condenado pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) por incumprimento do dever de usar de correção, moderação e respeito relativamente a um agente desportivo, neste caso a arbitra Diana Moreira. 

Em causa estavam sobretudo as palavras e comportamento do arguido que no decorrer da partida terá proferido “P…, o teu lugar é na cozinha”, quando se mostrou insatisfeito com uma decisão da arbitra assistente. 

Mas ainda na esfera internacional, se no plano do desporto de alta competição, Joy Neville ficará na História porque ser é a primeira arbitra num Mundial de râguebi masculino e no Mundo dos negócios, Adena Friedman será lembrada por ser a primeira mulher a liderar uma bolsa nos EUA, nomes e mulheres que para nós quase não nos dizem nada, mas que, na verdade são, como tantas outras as “porta-estandartes” do inconformismo a que as Mulheres não devem ceder, porque cada conquista que ficar por alcançar é um retrocesso numa caminhada árdua que na minha singela forma de pensar começou logo com a Revolução Francesa em 1789!

Sim, a República Francesa, a “mãe” de todas Repúblicas,que tem na sua figura proeminente a MARIANNE, que personifica a vitória da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a vitória do Povo (Homens e Mulheres) à subjugação de uma monarquia inumana onde reinavam ainda direitos feudais, e tão bem retratado por Victor Hugo no seu Livro “Os Miseráveis”, mas que logo após a proclamação da vitória, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, deixou “de fora” as Mulheres que não viram os seus direitos retratados, nem tão pouco receber “os soldos” que os homens que lutaram na Revolução Francesa receberam e que levou a Olympe de Gouges (1748–1793), uma revolucionária, ativista pelos direitos das mulheres na Revolução, popular e reconhecida na Era do Iluminismo em 1792 escreves a Imortal Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã.  

É verdade que a História nos devolve nomes como Joana D´ Arc (1412–1431) ou a Padeira de Aljubarrota (1350), ou num passado mais recente Marie Curie (1867–1934) ou Adelaide Cabete, (1867–1935) ou uma enorme, gigante Simone Veil (1927–2017) ou Natália Correia (1923-1993), cada uma pela rebeldia, inteligência e resiliência marcam-nos e inspiram-nos a lutar e celebrar o Dia 19 de Novembro, com uma tenacidade que se já muito foi alcançado, nomeadamente depois do 25 de Abril, muito mais há a alcançar ou será que as notícias como as que foram divulgadas no dia 14 de Novembro que fazem prova que em Portugal as desigualdades nas pensões de reformas é um problema que persiste e se agrava, visto que as mulheres além ter pensões 43,3% mais baixas do que os homens, ainda se agravou numa década face aos valores de 2012 que eram de 42,8%. 

O Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras afirma que 32% das empresas em Portugal são detidas por mulheres e, segundo um estudo da McKinsey, as mulheres representam 50% da população ativa, mas apenas 6% dos CEO em Portugal são mulheres, só 31,5% ocupam cargos de administração nas empresas cotadas em bolsa e 32,8% dos cargos de direção superior na Administração Pública, de acordo com dados do INE.  

Se tudo isto “somado” não é uma evidência que a luta pela Igualdade não é uma “birra” de feministas fanáticas, é fazer “tábua rasa” de verdades apuradas e incontornáveis que a estatística e os números não podem escamotear. 

Assim, o Dia 19 de Novembro inspira-nos para continuar a lutar pelas nossas carreiras, pelo direito de ambicionar empreender e criar os nossos próprios negócios e não nos inibirmos porque somos Mulheres, porque queremos ser Mães e conciliar a nossa vida profissional com a nossa vida familiar. Quantas vezes, nós Mulheres perguntamos-nos a nós mesmas, será que sou capaz? O que vão pensar por dar primazia à carreira, ou ao meu negócio se isso tirar tempo à vida familiar, quando, na verdade a conciliação da vida familiar, onde as tarefas domésticas e a educação dos filhos devem ser assumidas de forma partilhada! Será que sei fazer uma gestão de tempo equilibrada? 

Como não lutar contra o bullying e assédio laboral (o chamado “posta na prateleira”), nomeadamente por motivos de maternidade e por outros ainda mais “maquiavélicos” tentam de diversas formas impedir a progressão das nossas carreiras profissionais e das nossas aspirações. 

Hoje somos mais Mulheres, gostamos ainda mais de ser Mulheres, independentes, solidárias, com competências e sonhos que já não têm prazos, porque a Mulher já não se preocupa com a idade, mas sim com os projetos quer realizar. 

Hoje somos mais empreendedoras na área empresarial, social, desportiva e cultural, logo o Dia 19 de Novembro é o nosso dia porque como disse Michelle Obama: “Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos conquistar” e eu, de forma singela, acrescento, nem idade! 

Cristina Passas 19 de Novembro de 2023, Dia do Empreendedorismo Feminino (Parabéns a nós!)

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