Artigo de Opinião escrito por – Elói Santos – Responsável de Comunicação, Empresa Pública Municipal

Descanse, o título foi só para captar a sua atenção. Não sei, nem tenho interesse em saber prever números do que quer que seja. Não se zangue (ainda). 

As notícias fazem parte da nossa rotina. Oito em cada dez adultos dos países ocidentais consomem notícias diariamente, mais de uma hora por dia. Ao longo da nossa vida, essa hora diária corresponderá a 3 anos. Leu bem: três anos. Desperdiçados ou aproveitados, a cada um caberá julgar. 

Por que motivo somos tão suscetíveis à miséria e desolação das notícias? Por um fenómeno que os psicólogos designam como “enviesamento da negatividade”, ou seja, estamos mais sintonizados com o que é mau, do que com o que é bom. Assim, as desgraças atraem muito mais a nossa atenção do que factos positivos.  

Faz parte da nossa rotina, de há dois anos para cá, sermos bombardeados com números relativos à pandemia. Relativamente a este assunto, existem duas correntes, que me aperceba, na sociedade portuguesa: os pró-vacina e os anti vacina.  

Hanna Harendt afirmou que Eichman, conhecido nazi, não era um monstro. O que esta afirmação significa, a meu ver, é que apesar de ter tido ações monstruosas, estaria convencido da bondade dos seus “argumentos”, chamemos-lhes assim. Ou seja, em princípio, qualquer ser humano tem as suas motivações e não é monstruoso. Faz o que faz porque está convencido de que faz bem. Não convoquemos para a discussão Rosseau nem Hobbes, sob pena de o bem e o mal prejudicarem, sem dúvidas, o texto deste vosso amigo. 

Toda esta introdução serve apenas para tentar fazer um ponto: os que negam a eficácia das vacinas, fazem-no por estarem convencidos de que os seus argumentos são bons. Do outro lado da barricada (entre os quais me incluo), os que advogam o triunfo da ciência (com os números a comprovar a tese) estão igualmente convencidos da superioridade das suas ideias.  

Em 1964 Catherine Genovese foi assassinada em Nova Iorque enquanto 37 dos seus vizinhos podiam ter alertado a polícia e não o fizeram por terem pensado que outros o haviam feito.  Esta inação, à época, chocou os media americanos, crucificando a falta de atitude os cidadãos. Alguns optaram pela tese da difusão da responsabilidade. Ninguém agiu porque achou que outros o teriam feito. Aparentemente, a história não terá sido bem assim. No entanto, para as conclusões a tirar irá servir. 

Novo e definitivo salto para o presente. É óbvio que as críticas são desejáveis e fazem parte da nossa evolução enquanto sociedade. Precisamos de informação e não de alarmismo. Cabe-nos a nós escolher. Pela nossa sanidade. 

Precisamos de consenso e não de guetos de valores que inviabilizam o diálogo. Cabe-nos a nós saber conversar. Pelo nosso futuro. 

No que respeita à pandemia cada um tem de fazer a sua parte. A difusão de responsabilidade é o caminho mais simples. A culpa não é minha, é do outro.  

Para finalizar, um desejo para 2022: que os fazedores de opinião, sobretudo em alturas de crise, sejam pessoas de elite: inteligentes, capazes e preparados.  Que avancem os melhores entre os melhores. “

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