A presidente da Câmara de Miranda do Douro, Helena Barril, disse ontem que se vendeu uma ideia “errada” sobre uma candidatura dos Pauliteiros de Miranda a Património Imaterial da Humanidade, afirmando que “não existe nada neste sentido”.
“Quando cheguei à Câmara, encontrei esse dossiê de uma forma que me deixou muito triste. Quase que se andou a vender uma ideia, de que a candidatura dos Pauliteiros estava encaminhada, mas o que me deixou mais triste é que a candidatura dentro da Matriz PCI (Inventário Nacional do Património Cultural em Portugal), não está feita.
Jamais se poderá falar de uma candidatura a Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência [UNESCO] sem haver uma candidatura interna”, explicou a autarca de Miranda do Douro.
Na opinião de Helena Barril, “andaram a vender gato por lebre”, acrescentando que ficou “um bocado triste por isso, por tudo isto”.
“Mais uma vez, utilizaram os pauliteiros de uma forma negativa”, frisou.
O anterior executivo municipal de Miranda do Douro, liderado pelo socialista Artur Nunes, tinha garantido que estava em curso desde 2018 um processo de “execução” de candidatura dos Pauliteiros de Miranda a Património Municipal da Humanidade da UNESCO.
“Esta questão da candidatura a Património Imaterial da UNESCO não existe neste momento. Pode ter havido uma intenção, mas o trabalho não está concluído, nem de perto nem de longe”, disse Helena Barril.
Contudo a autarca social-democrata afirmou que vai continuar a apostar neste processo de candidatura e a pessoa que estava a tratar deste assunto vai conduzi-lo internamente.
“Teremos de avaliar a melhor forma de candidatar os Pauliteiros de Miranda a Património Imaterial da Humanidade. Isto não é uma concretização que se consubstancia num curto espaço de tempo. É um processo que vai demorar anos”, vincou.
Questionada se é uma proposta que vai ser colocada de lado, a Helena Barril respondeu que “não, não, longe disso”.
Contactada pela Lusa, a Direção Geral do Património Cultural (DGPC) adiantou que até à data não recebeu nenhum pedido de inscrição no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial desta manifestação dos Pauliteiros de Miranda.
Também contactado pela Lusa, o ex-presidente Câmara de Miranda do Douro Artur Nunes disse preferir não se pronunciar sobre este assunto.
Em 24 de outubro os Pauliteiros de Miranda apresentaram-se na Expo Dubai 2021
“A ida à Expo Dubai deu visibilidade mundial aos pauliteiros de Miranda”, vincou Helena Barril.
A origem da dança dos Pauliteiros não reúne consenso entre os investigadores.
“Esta terá nascido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se posteriormente pela Europa”, afiançam alguns.
Alguns autores, tal como o Abade de Baçal, defendem que a sua origem se deve à clássica dança pírrica guerreira dos gregos.
Este investigador, já falecido e tido como uma das maiores referências etnografia do Nordeste Transmontano, dizia que via poucas diferenças entre esta dança e a dança dos Pauliteiros tais como a substituição das túnicas pelas saias, o escudo pelo lenço sobre os ombros, os chapéus enfeitados e a utilização da flauta pastoril.
Mas a dança dos pauliteiros manifesta também vestígios de danças populares do sul de França e na dança das espadas dos Suíços na idade média.
Por: Lusa