Artigo de opinião escrito por Nuno Pires- direção do Estabelecimento Prisional de Bragança

É tão comum, quanto natural, falar ou escrever sobre o Natal, que, muitas vezes, se banaliza e não se vive e analisar o seu verdadeiro significado.

Por isso, apetece-me escrever sobre a simplicidade do Natal da minha meninice. Passado e vivido numa aldeia, onde, na altura, não havia ainda telefone, energia elétrica, rede de abastecimento de água potável, ou mesmo qualquer ligação rodoviária. Talvez, por isso, afetivamente, o Natal, naquele nosso mundo rural, fosse vivido e sentido de maneira diferente.

Não me esqueço da preparação natalícia que a minha mãe fazia, sobretudo numa altura em que não se falava em Pai Natal, mas no Menino Jesus, que descia pela chaminé para nos trazer os presentes e os colocaria no sapatinho. Neste contexto, religiosamente, colocávamos os sapatos junto à lareira, a que chamávamos lume, debaixo da chaminé, no caso de ela existir, porque nem todas as casas tinham chaminé.

Na noite, de consoada quase não dormia. No dia de Natal, logo pela manhã, lá ia eu à cozinha ver o que o Menino Jesus me tinha deixado. Um simples brinquedo, barato, pois o dinheiro estava caro, uma tabuada, uma caixa de meia dúzia de lápis de cor Viarco… Uma coisa é certa, nunca mais me esquecerei dessas vivências, da afetividade familiar, da alegria que imperava no nosso humilde lar.

Mesmo com a azáfama da azeitona, a minha mãe não deixava de fazer os fritos tradicionais da consoada. Ainda me lembro, antes de termos fogão a gás, quando a minha mãe me pedia para ir ao quintal arranjar uns “guicinhos” para colocar na lareira por baixo da frigideira com pernas, também conhecida por sertã, para que os fritos ficassem bem saborosos e apelativos, e de colocar também o açúcar nas rabanadas.

A Ceia de Natal e sua envolvência eram potenciadoras de entusiasmo, de alegria e bem-estar familiar, dos sorrisos afetivos dos meus pais, da interatividade positiva dos meus irmãos. Ah!…o “vinho fino”, que o meu pai dizia ter vindo do Porto, também era presença habitual na mesa, embora, lá em casa, o consumo de etílicas fosse reduzido.

A Bênção da Mesa, no final da Ceia de Natal, acontecia num clima de delicadeza, agradecendo ao Senhor o alimento recebido, aliás, ritual que se cumpria diariamente.

Enfim, tanta recordação positiva!… Era tudo tão familiar, a aldeia, os amigos… da meninice…da juventude!… A alegria, a amizade, a educação e o respeito, que não se lia em parte nenhuma, mas se aprendia, imitando o testemunho dos mais velhos, que transparecia, se vivia fluentemente, e se exercia com toda a gente. Valores que permanecem na memória de termos sido também nós respeitados, amados, reconhecidos, na família, na Igreja, no ambiente social local, na escola da aldeia.

Na verdade, o Natal também nos leva a refletir sobre o quanto é importante termos consciência do nosso passado e, de que a nossa vida, e tudo o que temos, é consequência do cuidado, do amor que nos vem dos nossos pais, dos familiares, dos amigos, dos “Outros”, fazendo-nos sentir bem por termos sido educados e ficarmos conhecedores de todas as regras e boas maneiras.

É neste contexto que, recordando o Natal na meninice, desejo a todos Festas Felizes, num ambiente em que a promoção da paz, da solidariedade, da tolerância da concórdia e do respeito pelo “Outro”, sejam remédios eficazes contra a má-educação, o egoísmo, a arrogância, a corrupção, a deselegância, a falta de AMOR… de FÉ!…

 Um Santo Natal!..

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