A segunda língua oficial de Portugal, o mirandês, está cada vez mais perto de integrar a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. Este era um feito já há muito aguardado pela Associação de Língua e Cultura Mirandesa uma vez que salvaguarda o futuro desta língua.
Em declarações à agência Lusa, Alfredo Cameirão, presidente da Associação de Língua e Cultura Mirandesa, referiu que “estamos muito satisfeitos com a aprovação por unanimidade de um projeto de resolução que recomenda ao Governo que conclua a vinculação do país à Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias”.
O parlamento aprovou, por unanimidade, sem a presença dos deputados do PAN e do Livre, um projeto de resolução, onde recomenda, ao Governo, a conclusão da vinculação do país à Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias, onde está integrado o Mirandês.
Este é um passo importante para o futuro da língua, quem o diz é Helena Barril, autarca de Miranda do Douro. “É para nós, enquanto herdeiros da língua mirandesa, o reconhecimento que faltava para que se possa trabalhar em todas frentes para a salvaguarda do mirandês”.
A Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias do Conselho da Europa consiste num documento que elenca várias premissas à qual os estados-membros desta organização se comprometem, de forma a salvaguardar e a defender as várias línguas minoritárias que eventualmente cada país tenha no seu território.
Estudo conclui que o Mirandês se encontra numa situação “muito crítica”
Um estudo realizado na Universidade de Vigo, em Espanha, concluiu que a língua mirandesa se encontra numa situação “muito crítica”, fator este desencadeado pelo abandono desta forma de falar por parte das entidades públicas e privadas.
Este estudo foi iniciado em 2020, que estimou que cerca de 3.500 pessoas conhecem a língua, no entanto, apenas 1.500 a usam regularmente.
“A língua mirandesa está numa situação muito crítica, dado o abandono das instituições públicas” referiu, na altura, o investigador Xosé-Henrique Costas, professor catedrático da Universidade de Vigo, à agência Lusa. “A este ritmo, este idioma desaparece em menos de 20 anos”.
Quando os resultados do estudo foram conhecidos, os responsáveis apontaram para a necessidade da ratificação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias e para a necessidade de uma nova Lei do Mirandês, com o objetivo de que “a língua mirandesa ganhasse de novo vitalidade”.
Número de alunos a frequentar aulas de Mirandês aumenta
Em contrapartida, no início do ano letivo 2022/23 houve registo de um aumento dos alunos inscritos na disciplina de Língua e Cultura Mirandesa. Setenta e nove por cento optaram pela disciplina. “Num universo de 575 alunos que frequentam este agrupamento de escolas, 79% optaram pela disciplina de Língua e Cultura Mirandesa, o que significa um aumento considerável em relação aos anos anteriores” sublinha António Santos, diretor do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, à agência Lusa.
A língua mirandesa “é um fator identitário importantíssimo ao nível da região do Nordeste Transmontano e que não se pode perder”.
O ensino do mirandês já está consolidado nas escolas de Miranda do Douro desde o ano letivo 1986/87 e, é desde o ano letivo 2009/10, feito de forma contínua, desde o pré-escolar até ao secundário.
Jornalista: Lara Torrado
Foto: Observatório da Língua Portuguesa