O mirandelense, Paulo Araújo, sagrou-se campeão nacional da Divisão de Honra – segundo escalão do basquetebol em cadeiras de rodas – com a camisola da APD Paredes, clube onde é treinador-jogador.
O título foi conquistado no passado domingo, após a vitória por 34-28 no terceiro e decisivo jogo da final do play-off frente à ACD Cotovia.
Este foi o primeiro título do mirandelense como jogador e também como treinador, numa época que diz ter sido muito difícil de gerir, devido à juventude do plantel. “Alguns deles foi mesmo a primeira experiência no basquetebol, tive de os ensinar e não tinha grandes soluções no banco de suplentes”, confessa Paulo Araújo que não esconde a emoção com a conquista do título de campeão que também é o primeiro do clube que representa há dez anos. “É um privilégio para mim conseguir este feito”, afirma.
O mirandelense explica que se trata de um desporto apaixonante para quem o pratica, mas também para quem tenha a possibilidade de assistir. “Ao verem a primeira vez ficam apaixonados, porque é um desporto bastante rápido, algo violento para quem não está habituado a ver, mas que tem vertentes apaixonantes do basquetebol, porque basicamente é a mesma coisa, só tem as cadeiras rodas a que nós chamamos as nossas sapatilhas”, diz.
Paulo Araújo tem 33 anos e pratica basquetebol em cadeira de rodas, desde os 11 anos, incentivado por um amigo que praticava a modalidade. “Emprestou-me uma cadeira de rodas, com alguns anos de uso, e comecei a jogar”, diz.
Como não há competição em Mirandela, procurou outras paragens representando associações de Bragança, Chaves e Vila Pouca de Aguiar, até que, em 2012, surgiu a oportunidade de ingressar na equipa da Associação Portuguesa de Deficientes de Paredes, no Porto, onde ainda se mantém. “É um clube mais competitivo que me acolheu muito bem e que me permitiu evoluir. É uma segunda família para mim”, adianta.
Paulo admite que não tem sido fácil manter esta paixão, porque os custos são enormes e os apoios escassos. Paredes fica a mais de 130 quilómetros de distância e tem de fazer essa viagem, ida e volta, pelo menos duas vezes por semana, mais os jogos que tem ao fim-de-semana. “Continua a não haver verbas para a modalidade, não há patrocínios, tenho alguns pessoais, mas que não chegam para as despesas. É mesmo o gosto e paixão pelo basquetebol que não me permite desistir”, refere o mirandelense que agora tem uma nova cadeira para competir fruto de uma comparticipação da Associação de Basquetebol de Bragança e do Município de Mirandela.
Paulo Araújo admite que só mesmo uma grande paixão pela modalidade é que o ajuda a superar o desgaste de uma década de constantes deslocações e mais complicado se tornou, desde 2018, altura em que começou a trabalhar como operador de call center. “Muitas vezes saio tarde do trabalho, depois vou equipar à pressa, arranco para Paredes e depois chegar à meia-noite, ou uma da manhã a casa e no dia seguinte de manhã ter de voltar ao trabalho já começa a pesar”, admite.
Mas, para além do basquetebol, o mirandelense também pratica atletismo. “Comecei há dois anos e já fiz algumas maratonas como a das cantarinhas e a da Régua, mas a minha grande paixão é o basquetebol”, afirma.
Paulo Araújo é paraplégico, nasceu com uma deficiência motora grave, resultante de uma doença congénita – espinha bífida – já foi submetido a duas dezenas de intervenções cirúrgicas para tentar aumentar o seu grau de mobilidade. Atualmente tem 90 por cento de incapacidade.
Mas nem isso o desmotivou e sempre quis atingir várias metas. Este mirandelense admite que praticar desporto tem sido um fator de motivação para não esmorecer. “Não há barreiras para o desporto, vou sempre praticar, porque faz bem à minha parte física. Se estiver duas semanas sem treinar, para mim já é uma autêntica doença e já me custa mais a tirar a cadeira do carro e fazer as transferências”.
No fundo, Paulo quer ser um exemplo de motivação para quem tem problemas de mobilidade. “Para mim, desistir e nunca são duas palavras que não existem”, garante.
Jornalista: Fernando Pires