Jornalista, autor e contador de histórias, João Oliveira partiu à aventura numa ‘viagem ao interior’, nome do projeto que criou. Durante um mês, a carrinha “bibliotecária” conduzida por ele fez chegar ao interior transmontano histórias e livros para oferecer.
João Ferreira Oliveira nasceu em Vilarinho, Santo Tirso, e é licenciado em Ciências da Comunicação. Andar na estrada faz parte do seu ADN e, por isso, é jornalista especializado em viagens. Para além disso, é autor de livros para crianças. Com o confinamento, surgiu a vontade de aquecer o coração das crianças e adultos do interior transmontano com livros e histórias por contar.
“Uma coisa é andar na estrada a fazer reportagem com um carro convencional e outra coisa é com uma carrinha destas carregada de livros, por isso, soube bem, fui muito bem acolhido.“
A ‘Viagem ao Interior’ é um projeto que nasceu durante o primeiro confinamento, depois de João Oliveira começar a questionar-se sobre as crianças e pessoas idosas do interior que, graças à pandemia, estariam em isolamento total. Bibliotecas, livrarias e bibliotecas itinerantes suspensas deram asas à ideia de ajudar, dentro das suas possibilidades, a combater este flagelo.
Uma carrinha e uma coleção generosa de livros bastou para fazer acontecer a viagem que o levou ao interior.
“A viagem chama-se ‘Viagem ao interior’ precisamente porque os destinos que eu escolhi são todos no interior.”
A 6 de maio deu-se início a aventura que, parecendo romântica, não passaria de uma ideia sem os apoios dos municípios, como aconteceu na Terra Fria. “Este projeto, estas ideias precisam de apoio e financiamento porque são muito românticas, mas a carinha precisa de combustível, é preciso comprar livros e eu tive o apoio quer das aldeias do xisto quer da rota da terra fria”, explica o jornalista.
Contou, também, com o apoio da Citroen para suportar os custos de viagem, bem como o patrocínio das editoras portuguesas que ofereceram alguns livros.
“Estou muito contente e satisfeito não só com o projeto em si como com aquilo que o território me deu.”
Quando questionado sobre o porquê de escolher Trás-os-Montes, explicou que se deveu ao facto de ser uma zona que conhece “relativamente bem, por isso quis voltar”. Além disso, explica, não se justificava a escolha dos grandes centros urbanos e litoral pois são os sítios onde existe maior concentração de serviços como bibliotecas e livrarias.
Da escolha do autor, surgiram memórias inesquecíveis. Motivo que levou o Canal N a desafiar o autor a contar uma memória da viagem que eternizaria em livro. “É difícil escolher uma memória somente porque felizmente houve várias”, avança.
Acrescenta, ainda: “A paisagem é algo muito forte, gosto muito do Parque Natural de Montesinho, por exemplo. Não só… Gosto muito de Trás-os-Montes, da forma como se é recebido, da personalidade das pessoas, das características dos sítios e gosto muito da abordagem”.
“Ela estava a matar uma galinha à janela para o seu aniversário e eu fui lá a janela oferecer um livro.”
Do livro cheio de memórias, há algumas que se destacam.
Como foi o caso da situação caricata na aldeia de São Joanico com a senhora Maria Madalena, um dia antes do seu aniversário: “ela estava a matar uma galinha à janela para o seu aniversário e eu fui lá a janela oferecer um livro e curiosamente ela revelou-se uma grande leitora. Começou a falar de livros, de literatura, a dizer que gostava imenso de ler”. Momentos inusitados que o jornalista diz ficarem gravados.
Na carrinha levou consigo 500 livros para crianças e adultos e tinha como desejo voltar a casa com a carrinha vazia. Em Trás-os-Montes, diz ter distribuído cerca de 300 livros em sessões de leituras.
Foi o caso do ocorrido na biblioteca Trindade Coelho em Mogadouro, onde João Oliveira teve uma sessão de leitura que caracteriza como “muito boa”. Também no Parque Pinta em Vimioso, onde nunca tinha estado, a experiência revelou-se positiva: “fizemos um passeio de burro e uma sessão de leitura com as crianças”.
Para João Oliveira, o principal objetivo do projeto “é, de facto, as leituras às crianças”. Mas não se fica por aí, o seu lado de jornalista entrou em ação com reportagens sobre as experiências vividas em Trás-os-Montes. Com ele esteve uma equipa de mais de duas pessoas e duas câmaras com as quais gravaram o futuro documentário.
“O objetivo é que passe num canal de televisão, a retratar, não só toda a experiência do projeto, mas aquilo que vamos vendo no terreno, as pessoas, os sítios, as paisagens, tudo isso”, conclui o jornalista.
Feita a rota da Terra Fria, João Oliveira regressa a casa com a carrinha vazia e de coração cheio.
Por: Catarina Carneiro