No arranque da primeira fase de vacinação gratuita contra a gripe, os especialistas alertam aqueles que têm doenças do coração, lembrando que depois de uma infeção gripal o risco de enfarte do miocárdio é 10 vezes superior.

Em declarações à Lusa, o cardiologista Carlos Rabaçal, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, sublinha que é “essencial a vacinação de quem tem problemas do coração, assim como a manutenção durante inverno das medidas de proteção, como a máscara (em aglomerados), a distância e a desinfeção das mãos”.

Devido à situação que ainda estamos a viver da pandemia de covid, “percebemos que os vírus podem ter uma influência dramática na função de vários órgãos e de vários sistemas do corpo humano, em particular do coração”, considerou o especialista, sublinhando: “É incrível como antigamente se via pessoas aglomeradas nos bancos das urgências dos hospitais, com tosse, e ninguém usava máscara”.

De acordo com o especialista, as pessoas que apresentam um maior risco, são aquelas que já têm uma qualquer doença, um enfarte do miocárdio, que sofrem de angina de peito ou que têm insuficiência cardíaca e que passam pior por qualquer infeção, seja ela viral ou bacteriana”, sublinhou.

Carlos Rabaçal acrescenta que “uma situação cardiovascular traduz um aumento do risco para qualquer doença” e que “todos os organismos internacionais recomendam que as pessoas que tenham um qualquer tipo de doença cardiovascular devem vacinar-se contra a gripe para não correrem mais riscos de terem problemas sérios”.

Apesar de ser uma área “algo controversa”, o cardiologista defende que “mesmo as pessoas que não têm doenças, com a gripe têm um maior risco de vir a desenvolver um problema cardíaco”.

“Há vários estudos dos últimos anos que mostram de uma forma clara (…) que, por exemplo, nos primeiros três dias após a contração de uma infeção gripal pela influenza, o risco de enfarte do miocárdio é cerca de seis a 10 vezes maior e o risco de acidente vascular cerebral também é cerca de 12 vezes maior do que fora destas épocas”, explicou o especialista, sublinhando: “Há efetivamente uma relação entre as infeções por influenza, seja A ou B, e o aparecimento de doenças cardiovasculares em pessoas aparentemente saudáveis”.

Este risco – concluiu – “é superior em quem já tem um fundo [problema], seja ele cardiovascular, seja ele respiratório, ou até metabólico”.

“Nós sabemos que estas coisas todas têm custos, mas, por exemplo, a vacina contra a gripe está indicada em vários locais do mundo para indivíduos que não têm qualquer tipo de substrato de doença”, acrescentou.

Aponta ainda um estudo feito em Portugal, que pretendeu avaliar o impacto não só nas pessoas, mas também nos recursos, particularmente nos custos dos internamentos, e que mostrou que nas estações gripais entre 2009 e 2018 houve “muitos internamentos de gente abaixo dos 65 anos, dos 50 e até dos 40”.

“Hoje não temos dúvida de que a melhor forma de prevenir as complicações da gripe é a vacinação. Assim como a melhor forma de prevenir as complicações da pneumonia é a vacinação”, defendeu.

Carlos Rabaçal sublinha que durante a estação gripal, que é definida entre outubro e maio, “há uma coincidência nos picos de influenza e de internamento por enfarte do miocárdio”.

“Nesta época, habitualmente a taxa de internamentos por enfarte é cerca de 20% superior ao que é fora desta época”, insiste, lembrando também a importância de na época gripal se manter algumas das medidas de proteção impostas pela pandemia.

“Faz sentido apelarmos às pessoas, particularmente as que têm doenças crónicas, para não correrem riscos e se vacinarem contra a gripe e também contra a pneumonia, se não o fizeram. Assim como que se continue a ter os cuidados elementares de distanciamento e uso de máscaras, sobretudo em aglomerações, de forma a prevenir o aparecimento de outras epidemias”, concluiu.

Fonte: Lusa

Foto: Ivo Pereira/Global Imagens

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