Presidente já entregou a carta de renúncia do mandato. Restantes seis elementos devem fazer o mesmo, esta segunda-feira. Decisão tomada depois de a maioria do corpo ativo da corporação ter apelado à saída do presidente da direção e dos pedidos de renúncia do presidente e vice-presidente do Conselho Fiscal. Eleições devem acontecer a 24 de julho.
Está decidido. Os sete membros da direção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Mirandela consideram que não estão reunidas as condições para continuar à frente dos destinos da associação e vão renunciar aos cargos, seis meses depois de terem tomado posse de um mandato que só terminava no final de 2022.
O primeiro a fazê-lo foi mesmo Marcelo Lago. O presidente da direção entregou a carta de demissão ao Presidente da Assembleia-Geral, Artur Assis, na noite do passado sábado, um dia depois de 51 voluntários do quadro ativo terem apelado, em carta aberta, à saída de Marcelo Lago, caso contrário garantiam que iriam pedir, individualmente, a inatividade. Alegam que as polémicas das últimas semanas estão a manchar o bom nome da associação e dos seus bombeiros e acusam o presidente da direção de tomar decisões que só têm contribuído para aumentar o descontentamento do corpo ativo que culminaram, no processo que classificam de “atabalhoado” da escolha de um novo comandante com um currículo que consideram “questionável”.
No mesmo dia, o presidente e o vice-presidente do Conselho Fiscal apresentaram a renúncia dos cargos, alegando desconforto pelo momento sensível dos bombeiros e por entenderem que deveria ter existido uma resposta adequada, por parte do presidente da direção.
Durante o dia de sábado, alguns voluntários estiveram mesmo em vigília em frente ao quartel aguardando uma decisão da direção. Nessa mesma noite, Marcelo Lago entregou a carta de demissão, confirmou o presidente da Assembleia-Geral.
A decisão da demissão em bloco da direção só ainda não é oficial, porque ao longo desta segunda-feira é que os restantes membros da direção vão entregar, por escrito, ao presidente da Mesa da Assembleia-Geral da Associação, os seus pedidos de renúncia.
Ao que apuramos, já terá ficado definida a calendarização do novo processo eleitoral para os novos órgãos sociais da associação. O prazo para entrega de listas vai decorrer até 9 de julho e o ato eleitoral acontecerá no dia 24 do mesmo mês. Até lá, a direção vai manter-se em gestão.
Entretanto, esta demissão também trava o processo de nomeação do novo comandante da corporação, iniciado a semana passada. Henrique Teixeira, antigo comandante dos bombeiros de Melo, no distrito da Guarda, tinha sido a escolha de Marcelo Lago, mas, mediante este clima interno na corporação o próprio comandante indigitado enviou uma carta à direção declinando o convite por não ter condições para exercer o cargo.
Sendo assim, será a nova direção que for eleita a 24 de julho que irá conduzir este processo, até lá, Luís Carlos Soares continua como comandante em regime de substituição, tal como já acontece desde o dia 1 de junho.
Marcelo Lago abandona direção dos bombeiros 19 anos depois
Buscas da PJ incendiaram clima de tensão interna
É o culminar de quatro meses de intensas polémicas no seio da associação, que se intensificaram no último mês.
Tudo começou mo início do mês de março, quando a PJ fez buscas no quartel dos Bombeiros Voluntários de Mirandela, numa operação inspetiva despoletada no âmbito de um inquérito após uma denúncia anónima que acusava o presidente da direção daquela associação, da autoria de diversas práticas, alegadamente, ilícitas, que, a confirmarem-se, poderiam indiciar um crime de natureza patrimonial.
As operações de busca também aconteceram na Câmara Municipal de Mirandela para recolha de documentos, nomeadamente de deliberações do executivo municipal, atas e verbas atribuídas à corporação de bombeiros.
Os inspetores da PJ também estiveram nas instalações do parque de campismo de Mirandela, onde a associação de bombeiros possui um restaurante, que foi construído durante os quatro anos em que a gestão daquele equipamento turístico esteve a seu cargo, no âmbito de um protocolo estabelecido com o Município, em 2015, entretanto denunciado pelo atual executivo, em 2019.
Até ao momento, ainda ninguém foi constituído arguido.
Já no final de maio, aconteceu a demissão do comandante da corporação, Edgar Trigo, que exerceu aquelas funções desde janeiro de 2013.
Luís Carlos Soares seria, de acordo com a legislação em vigor, o único elemento do corpo de bombeiros que poderia assumir o cargo durante este período de transição, até que a direção liderada por Marcelo Lago decidisse quem seria a nova equipa de comando da corporação.
Esta legitimidade de Luís Carlos Soares está ligada ao facto de ser o bombeiro mais graduado do corpo ativo com cerca de 20 anos de serviço.
O enfermeiro do INEM de 36 anos já fazia parte do comando, mas terminou a comissão de serviço em outubro de 2019, “em litígio com os procedimentos internos do presidente da direção”. Desde então, manteve-se como oficial de bombeiro.
15 dias depois, Luís Soares denunciou que os bombeiros voluntários de Mirandela eram o único corpo ativo do distrito de Bragança que não tinham uma equipa de combate aos incêndios florestais, conforme o plano de operações de socorro distrital.
Em comunicado, revelou que esta situação acontecia desde o dia 3 de junho, altura em que a equipa terá sido “suspensa pelo comando distrital de Bragança, por não estar de acordo com o regulamento em vigor para sua efetivação”. Situação confirmada pelo próprio Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Bragança.
Na semana passa, no mesmo dia em que a direção da associação acordou a indigitação de Henrique Teixeira para novo comandante do corpo ativo daquela corporação, Luís Soares dirigiu uma carta aberta a todos os órgãos sociais da associação dos bombeiros, corpo ativo e restantes entidades “com dever de cooperação e ou fiscalização”, onde colocava em causa a gestão de Marcelo Lago nos últimos anos, revelando “um conjunto de comportamentos na área da gestão financeira, que os órgãos próprios da associação e entidades de relevante interesse, se devem questionar e escrutinar caso assim o entendam”, podia ler-se.
Luís Carlos colocou perto de duas dezenas de questões que “devem merecer uma reflexão e resposta”.
No dia 26 de junho, em carta aberta 51 voluntários do quadro ativo apelaram à saída de Marcelo Lago, caso contrário garantiam que iriam pedir, individualmente, a inatividade. No mesmo dia, José António Ferreira, presidente do Conselho Fiscal da Associação dos Bombeiros Voluntários de Mirandela, e Jorge Lopes, Vice-Presidente, anunciaram a renúncia aos cargos.
No dia seguinte, Marcelo Lago pediu a demissão de presidente da direção dos bombeiros depois de 19 anos à frente daquela associação.
O antigo presidente da câmara de Mirandela, entre 1976 e 1989, tinha sido reeleito, em dezembro do ano passado, para um mandato de mais três anos.
Jornalista: Fernando Pires