Chegou ao concelho de Mirandela a Xylella fastidiosa, uma bactéria altamente destruidora que afeta várias culturas agrícolas, mas que ainda não há tratamento, pelo que a única forma de parar a evolução da doença é o abate das árvores infetadas, ou evitar a contaminação através do diagnóstico precoce.
Em Mirandela, a presença da bactéria Xylella fastidiosa foi laboratorialmente confirmada numa amostra de oliveira, colhida na freguesia de Alvites, o que levou a DGAV – Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – a emitir um despacho a determinar o estabelecimento de uma zona demarcada que abrange freguesias de Mirandela e Macedo de Cavaleiros, bem como as medidas que devem ser aplicadas para a erradicação da bactéria.
O despacho já foi emitido no dia 21 de novembro, assinado pela diretora-geral da DGAVE, Susana Pombo. Adianta o despacho da Autoridade Fitossanitária Nacional que, “em resultado da confirmação da presença da bactéria Xylella fastidiosa nos concelhos do Fundão e Mirandela”, a DGAV procedeu ao estabelecimento de zonas demarcadas nestas regiões bem como a lista das freguesias total ou parcialmente abrangidas por esta zona demarcada.
No concelho de Mirandela, está abrangida a freguesia de Alvites, onde foi detetada a presença da bactéria, mas também parte das freguesias de Mascarenhas, Múrias e a União de Freguesias de Avantos e Romeu, e ainda Ala e Vilarinho do Monte, já no concelho de Macedo de Cavaleiros.
Entre as medidas que vão ser aplicadas, desatacam-se “a destruição imediata, após realização de um tratamento adequado contra a população de potenciais insetos vetores, dos vegetais infetados, bem como dos restantes da mesma espécie”.
Está também proibida “a comercialização, na zona demarcada, em feiras e mercados, de qualquer vegetal, destinado a plantação”.
Têm sido vários os olivicultores que nos fizeram chegar a sua preocupação tendo em conta que ainda se está em plena apanha da azeitona.
Confrontada com este assunto, a diretora Regional de Agricultura e Pescas do Norte não quis prestar declarações, alegando Carla Alves que a DRAPN apenas faz a execução do plano que a DGAV, entidade coordenadora nacional, elaborou e que está disponível no despacho de 21 de novembro.
Ao que apuramos, as juntas de freguesias foram informadas, por correio eletrónico, deste despacho da DGAV, mas a informação ainda não foi colocada em modo de edital.
Quanto às associações do setor, da parte da AOTAD (Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro), o presidente da direção, Paulo Ribeiro, adianta que só tomou conhecimento desse despacho, esta terça-feira e que o assunto vai ser discutido nos próximos dias em reunião de direção.
Entretanto, o presidente da APPITAD – Associação de Produtores de proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro – explica que o caso está ser seguido de acordo com o plano de contenção e monitorização da DGAV. “O que vão fazer é onde foi detetado o foco de Xylella, vão eliminar tudo o que é vegetação à volta num raio de 50 metros e foi criada uma zona tampão naqueles 2,5 quilómetros de raio e neste momento temos de estar atentos e monitorizar e foi isso que sugerimos à direção regional de agricultura e estamos disponíveis a colaborar neste período que é mais de contenção”, refere Francisco Pavão.
Apesar de admitir que o caso “é uma grande preocupação”, considera que “não há razão para alarme, porque neste momento os olivicultores dessa zona têm de ter precaução e as medidas da DGAV esclarecem isso”, acrescenta.
BACTÉRIA CAUSA DOENÇAS EM 350 ESPÉCIES DE PLANTAS
A Xylella fastidiosa está classificada como organismo de quarentena, transmite-se de árvore em árvore através de insetos e tem um largo espectro de hospedeiros, causando danos graves em 350 espécies de plantas, entre as quais estão as oliveiras, citrinos, videiras, fruteiras, loendros, entre outras plantas, incluindo ornamentais.
Quando atinge a planta, a bactéria começa por colonizar a madeira, depois espalha-se pela árvore e acaba por entupir o seu sistema de circulação de fluidos. No caso das oliveiras, as plantas acabam mesmo por murchar desde a raiz até à copa.
Ainda não há tratamento, pelo que a única forma de parar a evolução da doença é o abate das árvores infetadas ou evitar a contaminação através do diagnóstico precoce.
O perigo está identificado desde 2013, quando a bactéria dizimou os olivais em Apúlia, no sul de Itália, levando ao abate de milhões de árvores. Nos últimos anos, este agente infecioso saltou fronteiras para os restantes países europeus – Portugal incluído – onde a Xylella fastidiosa foi detetada, pela primeira vez, em Janeiro de 2019 em Vila Nova de Gaia, em plantas ornamentais, como a lavanda.
Nesse sentido, a Comissão Europeia, a partir de 2014, estabeleceu medidas de emergência visando impedir a introdução e propagação da bactéria.
Jornalista: Fernando Pires