Artigo de Opinião de Marisa Lages – Fisioterapeuta, Docente no Ensino Superior e Investigadora na área da Gestão

“De acordo com a Clínic Mayo, o seu superior hierárquico é mais importante para a sua saúde do que o seu médico de família.” —BOB CHAPMAN, CEO da Barry-Wehmiller e autor de Everybody Matters.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) designou o stress como a grande pandemia do século XXI. Neste momento, menciona a OMS, o stress relacionado com o trabalho é o segundo problema de saúde mais referido na Europa, ficando logo atrás das perturbações músculo-esqueléticas. 

O stress profissional (burnout) já entrou na nova classificação internacional de doenças da OMS, que vigorará a partir de 1 de janeiro de 2022, e surge na secção consagrada aos «problemas associados» ao emprego e desemprego, sendo descrito como «uma síndrome resultante de “stress” crónico no trabalho que não foi gerido com êxito».

A doença, de acordo com a OMS, caracteriza-se por «um sentimento de exaustão, cinismo ou sentimentos negativistas ligados ao trabalho e eficácia profissional reduzida».

A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho – Occupational Safety and Health Administration (OSHA), mostra que o stress está na origem de 50-60% dos dias de trabalho perdidos na Europa sendo as causas mais comuns de stress relacionado com o trabalho: a reorganização do trabalho ou insegurança laboral (72%); os horários de trabalho alargados ou volume de trabalho excessivo (66%); e, a intimidação (bullying) e assédio no trabalho (59%). Refere ainda que cerca de 4 em cada 10 trabalhadores sente que o stress não é um tema devidamente abordado no seu local de trabalho e que as ausências relacionadas com o stress tendem a ser cada vez mais longas.

Jeffrey Pfeffer, Professor em Stanford, e um dos mais reconhecidos académicos na área de Gestão de Pessoas, publicou em 2018 “Dying for a Paycheck” (“Morrer por um Salário”). Aí, defende que a maioria das exposições no local de trabalho têm efeitos sobre a saúde comparáveis ​​ou até maiores do que a exposição ao fumo do tabaco passivo. A partir dos seus estudos, estima que o número total de mortes excessivas a cada ano atribuíveis às várias condições de trabalho – desemprego, não possuir seguro de saúde, trabalho por turnos, longas horas de trabalho, insegurança, conflito trabalho-família, baixo controle no trabalho, reduzido suporte social, baixa justiça organizacional e a elevada exigência – era de cerca de 120.000 pessoas em 2010 nos Estados Unidos. Este número de mortes por ano torna as práticas de gestão do local de trabalho a 5ª causa de morte nos Estados Unidos. Atualmente, estima-se que os números de mortes sejam ainda mais assustadores.

Assim, o local de trabalho é realmente importante para a saúde e o bem-estar humanos? 

Naturalmente que estes dados veem questionar muito o que fazemos no trabalho e sobretudo o impacto que a liderança e a gestão têm na saúde dos trabalhadores.

Neste sentido precisamos de repensar que os colaboradores são o que há de mais importante na organização e, desta forma, então teremos que criar espaços de trabalho em que as pessoas “não morram”. 

A informação e motivação da entidade patronal e dos trabalhadores para a promoção de um ambiente de trabalho seguro são fundamentais para desencadear uma gestão que promova a mitigação dos riscos psicossociais e, desta forma, o stress no trabalho.

Assim, a Associação Portuguesa de Segurança no Trabalho sugere a importância de: 

  • Gerir os riscos, avaliar, agir (ações preventivas e corretivas), monitorizar e reavaliar.
  • Promover a sensibilização no local de trabalho, com vista a trabalhar por um entendimento comum do stress.
  • Promover a resiliência pessoal e, consequentemente, da equipa e da empresa.
  • Intervir e apoiar quando se identificar uma situação relacionada com problemas de saúde e bem-estar relacionados com stress.

Em suma, salientaria que, em primeiro lugar, é importante escolher bem os líderes; de seguida incrementar o mais possível o trabalho em equipa baseado em mecanismos de solidariedade onde se tenha em conta escrupulosamente as horas de trabalho de forma a manter o equilíbrio família-trabalho, fomentar mais momentos nas empresas para a criação de laços de proximidade entre os colaboradores, dar formação às pessoas para que cada vez mais saibam o que fazer e, sem dúvida utilizar as melhores práticas de gestão. Acrescentaria outra medida crucial que é a de medir com regularidade a saúde e o bem-estar dos colaboradores.

Em função daquilo que se conhece parece que em vez de irmos trabalhar com prazer vamos mais para uma “zona de guerra” ou “batalha” e, que ao fim de um dia ou de meses acabamos por ser vencidos. É dramático! 

[1] Mayo Clinic é sistema hospitalar universitário nos EUA, sem fins lucrativos, que integra cuidados de saúde, educação e investigação. Emprega mais de 63 000 pessoas, 4.500 médicos e cientistas, e 58.400 funcionários administrativos. A U.S. News & World Report coloca a Mayo Clinic como o melhor hospital dos EUA – Best Hospitals Honor Roll, em 2020/2021.

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