Por: Tiago Morais – Estudante Universitário
Em 1970, a taxa de analfabetismo – não saber ler ou escrever – em Portugal era cerca de 25,7 %. Com o passar dos anos, e após várias medidas aplicadas ao sistema educativo, veio a diminuir, atingindo valores de cerca de 5 % em 2011 (Censos, 2011). Será suficiente?
Ter uma população dotada das capacidades de leitura e escrita é fundamental para a evolução de um país. Permite descodificar (ler) ou codificar (escrever) mensagens, usando letras, números e sinais de pontuação. Infelizmente, saber ler não é sinónimo de saber compreender o que foi lido. Por outro lado, saber escrever, não implica que se consiga passar a mensagem que se queria. Como se não bastasse, possuir estas duas capacidades não é suficiente para fazer uma análise ao que foi lido e questionar a sua veracidade.
Vamos imaginar um laboratório virtual chamado “Facebook”, sendo as cobaias deste estudo quem comenta a publicação feita. Uma notícia é lançada, milhares de comentários são escritos. Ignorando alguns (bastantes) erros, podemos verificar que todos “sabem escrever”. Se tiveram a necessidade de comentar é porque “souberam ler”. Mas que percentagem percebeu realmente a notícia na sua totalidade? Que percentagem comentou depois de ter lido apenas o título sensacionalista? Que percentagem verificou a fonte da publicação? Que percentagem partilhou sem perceber, sem ler na íntegra e sem verificar a fonte? É aqui que fica assustador e que se chega à conclusão que saber ler e escrever não chega. O “neo-analfabetismo” é uma espécie de analfabetismo funcional (falta de compreensão) modernizado, com uma nova característica: propensão às fake news e teorias da conspiração. Um exemplo? A Maria sabe ler e escrever. A Maria acha que esta pandemia foi criada pelo Bill Gates para benefícios económicos. A Maria partilhou o artigo onde “descobriu” isto e cuja fonte era www.istoémesmoverdade.com. A Maria é neo-analfabeta! Outro exemplo? O João leu o título de uma notícia: “O primeiro-ministro demitiu-se”. O João não abriu a notícia e partilhou com uma mensagem a falar mal de António Costa. O João não sabe que a notícia era sobre o Zimbábue. O João é neo-analfabeto.
Como combater? Promover a leitura, modernizando, talvez, algumas das obras obrigatórias na escola. Pode ser que assim a leitura deixe de ser um trauma para alguns e passe a ser um gosto. Regulamentar (ou apertar a regulamentação) quanto a títulos sensacionalistas e click-baits da imprensa nacional. Acabar com as fontes conhecidas de fake news (cabe também a cada um de nós denunciar). Apostar numa comunicação clara e objetiva em assuntos de obrigatória compreensão. Pode não ser suficiente, mas penso que ajudará nesta nova pandemia que é o neo-analfabetismo.