Foi aprovada um proposta do Livre de alteração ao Orçamento de Estado para 2024 para a criação de uma unidade orgânica para a promoção da língua mirandesa. O Governo prevê dotação orçamental específica para financiamento das medidas definidas no montante de 200 mil euros”.
A proposta do Livre foi aprovada na Comissão de Orçamento e Finanças sem votos contra, a abstenção do IL e do PSD e votos favoráveis dos restantes partidos.
“Em 2024, e após um processo de consulta envolvendo a autarquia de Miranda do Douro, a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa, as escolas com ensino de Mirandês, define e operacionaliza estratégias de proteção e promoção da língua mirandesa como língua viva, promovendo a criação de uma unidade orgânica própria”, pode ler-se na iniciativa.
De acordo com a proposta, cuja nota justificativa está escrita na língua mirandesa, “o Governo prevê dotação orçamental específica para financiamento das medidas definidas nos termos do número anterior, no montante de 200.000 euros”.
Quem visitar as principais artérias de Miranda do Douro na expectativa de ouvir falar de mirandês pode não o encontrar com muita facilidade. No entanto, o mirandês poderá estar a regressar, serenamente, à cidade, trazido, não só, pelos habitantes das aldeias que vão abandonando os pequenos centros rurais, mas também pela cidade que agora se orgulha de ostentar a toponímia em mirandês.
Um estudo, realizado na Universidade de Vigo, revelou que, em março de 2020, a língua era conhecida por cerca de 3500 pessoas, das quais 1500 conseguem falar regularmente. Os principais falantes distribuem-se por uma área de 550 quilómetros quadrados, esta área é conhecida como Terra de Miranda e é formada pelo concelho de Miranda do Douro e as freguesias de Angueira e Vilar Seco, no concelho de Vimioso.
Entre as possíveis medidas de proteger e preservar a língua, está a ratificação da Carta Europeia das Línguas Minoritárias, a criação de uma nova Lei do Mirandês, atualizada de acordo com as ações e medidas planeadas e orçamentadas. Esta nova Lei do Mirandês serviria como ponto de partida para impulsionar o desenvolvimento dessas áreas e promover o uso e a preservação do Mirandês como uma língua minoritária e culturalmente significativa, possivelmente levando a que a língua mirandesa ganhasse nova vitalidade.
Assim, se o futuro da língua mirandesa depende, em primeiro lugar, dos seus falantes, a sua continuidade está também relacionada com a existência de instituições e meios de transmissão como a escola e outras instituições. Apesar das transformações sociais concorrerem para a situação de precariedade em que se encontra a língua mirandesa, a realidade mostra-nos que esta ainda mantém a sua vitalidade, para a qual tem igualmente contribuído a política cultural da autarquia, nomeadamente no apoio à edição de variadíssimas obras em mirandês.
Jornalista: Lara Torrado
Foto: Observatório da Língua Portuguesa