Artigo escrito por Sebastião Imaginário – funcionário público.
Escrever sobre o Natal é apelar às memórias de infância, numa aldeia, Ervões, no concelho de Valpaços, onde, dias antes da celebração, íamos para o monte à procura do musgo e do pinheiro para construir o presépio.
O dia 24 de dezembro era de grande alegria e excitação. O sapatinho era colocado na chaminé para, durante a noite, ter a visita do Pai Natal, aquele senhor barrigudo, vestido de vermelho e barbas brancas.
Durante a tarde havia a azáfama da confeção da ceia de Natal. Eram os bolos de bacalhau, os sonhos, as rabanadas, as filhós, entre outras iguarias. Nós, os rapazes, íamos para o campo à procura de canhotas/cepas para fazer a fogueira que durava até ao dia de Reis.
Na ceia reunia-se toda a família para saborear o polvo, o bacalhau, a pescada e o congro, tudo cozido, acompanhado de batata, couve portuguesa e rabas. Nas sobremesas nunca poderia faltar a aletria e o arroz doce. Esta era a tradição no seio da minha família, que se mantém nos dias de hoje.
Terminada a ceia, e apesar do intenso frio que normalmente fazia, seguia-se a peregrinação até à fogueira, situada no centro da aldeia, onde todos estavam em amena cavaqueira e contavam-se muitas histórias com as quais me deliciava. Por volta das 24 horas, ou ligeiramente mais tarde, era o regresso a casa e à cama, com a expetativa do que o “barrigudo” deixaria no “sapatinho”.
No dia 25 acordava cedo e arrancava ansioso para junto da chaminé para desembrulhar as prendas que o Pai Natal tinha trazido. Uma bola de futebol, um equipamento de futebol e um cubo mágico foram as mais marcantes.
O ritual de ir à missa antecedia o almoço. Roupa velha, cordeiro ou cabrito, criados nos pastos da aldeia, assados em forno a lenha, acompanhado de arroz de miúdos dos mesmos, também no forno, e de batata assada, que faziam as delícias dos comensais. Não tenho memória do peru constar do cardápio, bem como da existência da missa do galo.
Essa era a minha magia de natal. Que se foi perdendo à medida que descobri que afinal o Pai Natal não existia. Era uma ilusão!
Hoje, numa cidade, Chaves, continuamos a celebrar essa data, com as tradições a manterem-se, mas que perdeu algum significado quando reparamos que à mesa já não se encontram pessoas que sempre fizeram parte da nossa vida e que amamos.
Atualmente, numa sociedade que não tem tempo para nada e cada vez mais consumista e materialista, e à semelhança de outras datas festivas, perderam-se muitos dos valores de antigamente, quase se esquecendo do que realmente importa: a reunião da família, a partilha.
No entanto, com todas as alterações que os tempos trouxeram, o Natal continua a ter o seu encanto e a sua magia. Com (re)encontros, confraternização e também com solidariedade para com os mais necessitados, os mais vulneráveis. Que neste Natal se mantenham estes valores!
Expresso aqui os votos de um bom Natal para todos.
Feliz Natal!