Foi hoje divulgado que o Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro vai devolver à natureza um abutre-preto, no concelho de Freixo de Espada à Cinta.

Esta ave de rapina está referenciada como uma espécie “criticamente em perigo” no território nacional. O animal chegou em outubro ao centro de recuperação com uma asa fraturada “na sequência de um disparo enquanto sobrevoava o Parque Nacional da Peneda-Gerês”, tendo sido submetido a uma cirurgia ortopédica e a tratamento de suporte.

“Esta ave apresentava uma fratura que, depois de ossificada, iniciou um processo de fisioterapia e de reabilitação motora, até recuperar a forma física” explica Filipe Silva, diretor do Hospital Veterinário da UTAD, acrescentando que “nesta última fase, esteve num túnel de voo com outros abutres para socializar e poder demonstrar os comportamentos sociais típicos da espécie”.

Segundo os especialistas em avifauna do CRAS, o abutre preto é a maior ave que ocorre em território nacional.

A libertação desta que é considerada a maior ave que sobrevoa o território nacional acontecerá a partir do meio-dia, de quinta-feira, no miradouro do Carrascalinho situado em Fornos, no concelho de Freixo de Espada à Cinta.

“A partir de agora, todos os voos deste abutre-preto vão ser monitorizados pela equipa do projeto ‘LIFE Aegypius return’, através do sistema de posicionamento global (GPS). O seguimento por GPS permitirá obter mais informação sobre os seus movimentos e a longevidade daqui em diante”, refere Filipe Silva.

Este animal pode atingir os três metros de envergadura. O abutre-preto está atualmente classificado como “quase em extinção” pela União Mundial para a Natureza. Em Espanha tem estatuto de Vulnerável e em Portugal está Criticamente em Perigo.

Entre as principais ameaças que afetam esta espécie conta-se a intoxicação e envenenamento, a eletrocussão e os choques com linhas elétricas, a perturbação humana e os incêndios florestais.

Foi em novembro de 2022 que Freixo de Espada à Cinta foi palco da apresentação do projeto “LIFE Aegypius Return- Consolidar o regresso de uma espécie de abutre ameaçada, ao longo da fronteira portuguesa e espanhola”. O objetivo do projeto é duplicar o número de casais.

“Quase quatro décadas após se ter extinguido em Portuga como espécie nidificante, o abutre-preto recolonizou o país em 20210, resultado da nidificação de algumas aves oriundas de Espanha e graças aos esforços de conservação levados a cabo nos dois países por ONGs e pelas entidades governamentais, em territórios públicos e privados” refere a LIFE Aegypius Return no seu site.

No entanto, não parece ser suficiente para a organização. “Embora o número de cais reprodutores tenha vindo a aumentar, a população de abutres-pretos é ainda hoje demasiado frágil” explica, e acrescenta que “o seu futuro permanece incerto em Portugal”.

O projeto LIFE Aegypius Return tem como objetivos assegurar o regresso do abutre-preto em Portugal e na Espanha ocidental. “Até ao final do projeto, em 2027, a equipa pretende duplicar a população em Portugal, passando dos atuais 40 casais em quatro colónias para pelo menos 80 casais em cinco colónias”. Entre as metas também está o melhoramento do sucesso reprodutivo, o fortalecimento e a conetividade entre colónias e baixar o estatuto nacional de ameaça.

Jornalista: Lara Torrado

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