10456 CASOS
10050 RECUPERADOS
342 MORTES
64 ATIVOS

Esta sexta-feira, 12 de março, faz precisamente um ano que foi detetado o primeiro caso do novo coronavírus no distrito de Bragança.

Tratou-se de um homem de 53 anos, natural de Mirandela, que acabou por recuperar. A primeira morte no distrito foi registada a 28 de março de 2020, de um homem de 72 anos, natural de Mirandela, mas residente em Bragança.
O dia 25 de janeiro deste ano foi aquele que registou o maior número diário de casos positivos, chegou aos 288.

Em 12 meses, a pandemia registou 10456 casos, dos quais 10050 recuperaram. Há a lamentar 342 mortes associadas à Covid-19, cerca de 3,3% dos infetados, uma taxa de mortalidade superior à média nacional que está nos 2,6%.
Outro dado, 8,4% dos 124 121 habitantes do distrito foi infetada.

Vimioso com 10,9% da população a ser infetada foi o concelho mais atingido, enquanto Carrazeda de Ansiães foi o menos atingido com 2,4%.
Um dos casos mais mediáticos foi protagonizado por um enfermeiro de 36 anos que exerce funções no hospital de Mirandela, pelos 98 dias que necessitou para ser dado como recuperado, entre 13 de Março e 21 de junho, do ano passado.

MAIS DE 3 MESES PARA RECUPERAR

Foi o segundo caso diagnosticado no distrito de Bragança e o primeiro profissional de saúde infetado pelo novo coronavírus. O enfermeiro do hospital de Mirandela teve os primeiros sintomas a 13 de março, foi internado nesse dia, e dois dias depois chegou o resultado positivo para a Covid-19. “Não digo que foi um choque, porque já estava a contar com essa realidade, mas comecei a pensar como é que seria a minha vida dali para a frente, porque ia estar isolado, fechado num quarto e acho que foi uma reaprendizagem”.

Seguiram-se 98 dias isolado na sua casa (de 15 de março a 21 de junho), e logo num dos momentos mais importantes da sua vida: a sua esposa carregava na barriga o primeiro filho do casal, com parto previsto para agosto. “Foi uma sensação agridoce, porque era o primeiro filho e ficar ali à parte da proximidade com a minha esposa. Esse afastamento afetivo foi o mais complicado de gerir, porque ver as semanas a passar a barriga a crescer e não ter a possibilidade de sequer tocar e sentir o meu filho, confesso que não foi nada fácil”.

Este profissional de saúde conta que as primeiras três semanas pareceram uma eternidade. “Houve dias mais complicados do que outros, mas regra geral tentei não fazer muitas previsões nem pensar muito nesta situação nem quando iria acabar. Tentei viver o dia-a-dia. Nas primeiras três semanas não fiz rigorosamente nada, fiquei mesmo naquele sedentarismo isolado no quarto. Via televisão, umas séries, estava ao telemóvel, tinha alguns contactos pela janela com familiares, mas era mesmo sedentarismo puro e comecei a ficar incomodado com aquela rotina diária sem ter nada para fazer”.

Depois dessa fase menos boa, o enfermeiro que também é jogador de futebol de uma equipa da distrital de Bragança optou por tentar inovar. “Tentei arranjar estratégias para passar melhor o tempo. Tentei abstrair-me das notícias, de ver televisão, quando podia saia para o pátio sempre com máscara. Exercício físico era quase todos os dias e foi fundamental para recuperar a minha atividade. Na garagem só eu é que entrava e ainda fiz alguma bricolage, sempre com responsabilidade, para não pensar apenas na doença e tentar com que a nossa parte psicológica não vá abaixo, porque isso era o principal”.

Chegou a realizar uma dezena de testes, todos positivos. “Tive que lidar com isso, porque quando ia com expetativas mais altas de que podia ter o segundo resultado negativo, porque sentia-me bem sem sintomas a não ser a falta de olfato e de paladar que se prolongou por mais semanas, nessa altura a frustração era maior. Tive dois testes em que tinha um feeling que podia já dar negativo. Passados dois dias deu novamente positivo. Desde aí disse para mim mesmo que não podia criar expetativas e foi o melhor que fiz”.

No dia 21 de junho, chegou finalmente a boa notícia: resultado negativo pela segunda vez consecutiva, condição exigida, na altura, pelas autoridades de saúde para ser considerado como paciente recuperado. Durante estes 98 dias sentiu-se apoiado e acarinhado pela família e amigos. “A preocupação da família, dos amigos e de muitos conhecidos que nunca esperei vir a contar foi muito importante neste processo, porque a esfera mais importante nesta situação é a questão psicológica, porque se nos deixamos ir abaixo a esse nível, cada dia é um tormento”.

Não esconde que viveu alguns dias maus. “Houve dias em que estava mais em baixo. Em que não me apetecia fazer nada a não saí do sofá ou da cama, só comia e dormia, mas felizmente tive a capacidade de combater isso porque interiorizei que isto não podia ser assim. Estava positivo, não há respostas, ainda por cima sendo um profissional de saúde queria ter resposta e não tinha, era frustrante, mas era um processo longo que tinha de combater e só tinha que me consciencializar que tinha de entreter a mente e o corpo para ultrapassar esta situação.”

O enfermeiro deixa alguns conselhos de precauções que devem ser tidos em conta: “A melhor coisa a fazer é mesmo a prevenção. Desinfetar as mãos muitas vezes. Quando fizer compras, ao chegar a casa devem desinfetar as embalagens.”
Este profissional de saúde tem uma longa história para contar ao seu primeiro filho, que tem agora seis meses.

Jornalista: Fernando Pires

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