Artigo escrito por José Machado – Professor
Existem momentos que gostávamos de poder reviver e por isso dizemos que “recordar é viver”, como se de certa forma uma chama ainda se mantivesse a arder.
Desde pequenos que a fogueira de Natal era o auge desta quadra, aquele momento em que saíamos juntos em família para reencontrar os amigos, pois esta noite era assim tão desejada. E ali à sua volta amontoavam-se as pessoas para aquecer o corpo a tiritar, lembro-me bem das labaredas imensas que iluminavam e aqueciam todo o espaço em redor.
Já pararam para pensar o que sustenta verdadeiramente uma fogueira a arder? Será a lenha? Será a gente? O brasume ardente, ou o espírito criado na sua envolvente? Para mim é uma mesa composta pela família, onde reina o amor a paz e a alegria, era também uma “bela fogueira”, pelo menos assim era em casa da avó Teresa.
O dia da consoada era para todos tão especial, havia bolo, velas, festejávamos o aniversário do “nosso lenhador”, era o avô que sustentava a fogueira de Natal, e todos o conheciam por “António Varredor”.
Tal como um lenhador existe para uma fogueira sustentar, existe um pai para os filhos criar, ou um avô para os netos ensinar. Mas tudo tem início e fim, e para ele muito cedo foi assim. Não bastou a sua partida, como também levou o especial motivo que no Natal nos unia, cada parte da família para seu lado foi, perdeu-se assim a verdadeira magia.
Esta era a essência do nosso lenhador, que ao longo dos anos mantinha as brasas, as mais delgadas lascas, e os troncos mais fortes e robustos ao redor da sua fogueira, assim era todos os anos no Natal, a tradição da família Moreira.
Assim que a fogueira apaga, o Natal acaba. Acabou a lenha, acabou a brasa, ficam apenas as boas memórias, às quais a saudade ainda se agarra.