Artigo escrito por Paulo Silva Reis – jornalista
Escrever sobre o Natal é apelar às minhas memórias da melhor de todas as quadras festivas e ao que mais prezo nesta vida que é a família.
O desafio foi-me lançado pelo amigo José Ramos do Canal Ntv e de imediato pensei que… falar das minhas tradições vividas em família, neste “Reino encantado” que é Trás-os-Montes, como diria Miguel Torga, pouco ou nada seria de diferente, da grande maioria dos transmontanos. Lembrei-me então de falar um pouco de uma quadra festiva e de um desporto que casam na perfeição.
O Natal é uma época de celebração, reflexão e união em muitas culturas ao redor do mundo. Na Europa, essa quadra festiva é marcada por ricas tradições que variam de país para país. Entre esses costumes, o futebol emerge como uma paixão contagiante que, muitas vezes, se entrelaça com as festividades, criando uma interação única entre os adeptos e as suas equipas.
As tradições natalícias na Europa são diversas e encantadoras. Em países como a Alemanha, os mercados de Natal (Weihnachtsmärkte) são famosos, com as suas bancas cheias de artesanato, comidas típicas e bebidas quentes, como o glühwein (vinho quente). Enquanto isso, na Itália, o famoso “cenone” (jantar de Natal) é um momento de união familiar, repleto de pratos típicos, como o peixe e a “panetone”, isto para não falar também da nossa que é rodeada de grande manjar que até faz crescer água na boca.
No Reino Unido, o Dia de Santo Estêvão (26 de dezembro) é marcado por eventos desportivos, sendo o futebol o grande protagonista, com uma longa tradição de jogos nesta data.
O futebol tem uma ligação histórica com o Natal na Europa, especialmente no Reino Unido, onde a tradição de jogos no “Boxing Day” remonta ao século 19. É um dia em que muitos clubes jogam, atraindo multidões para os estádios e criando uma atmosfera festiva. Para muitos adeptos, assistir a uma partida de futebol é uma maneira de celebrar o espírito natalício, reunindo amigos e familiares num evento que combina a paixão pelo desporto com a alegria desta quadra festiva.
Na Alemanha, a Bundesliga tem um calendário diferente e não realiza jogos na véspera de Natal ou no dia 25, mas o clima festivo ainda permeia o campeonato. A tradição do “Tannbaum” (árvore de Natal) nos estádios e as celebrações em torno dos jogos que antecedem o Natal tornam essas partidas especiais.
Em países como a Itália e a Espanha, as competições de futebol continuam durante esta quadra, mas a atmosfera é um misto de competição e celebração. As equipes frequentemente fazem referências ao tema nas suas redes sociais e campanhas publicitárias, e em alguns casos, até realizam eventos de solidariedade, unindo a paixão pelo futebol a ações sociais.
O encontro entre as tradições de Natal e o futebol europeu é um exemplo de como a cultura desportiva se pode entrelaçar com costumes familiares e sociais. A energia nas bancadas durante os jogos de futebol, os cânticos festivos dos adeptos e a camaradagem que permeia os estádios criam um ambiente que reflete o verdadeiro espírito de Natal. Além disso, muitos clubes envolvem-se em ações comunitárias, e Portugal não foge à regra, como angariação de alimentos e brinquedos para os necessitados, reforçando o valor da solidariedade durante esta época.
No Natal, as equipas costumam fazer doações para instituições, visitas a hospitais e atividades comunitárias. Muitos jogadores envolvem-se em ações sociais, promovendo o espírito de Natal dentro e fora das quatro linhas.
As redes sociais ficam repletas de mensagens festivas, e é comum ver os jogadores postarem fotos, revelando o lado humano das estrelas do futebol.
No campo, a competição não é interrompida. Os clubes lutam por vitórias em partidas que muitas vezes se jogam próximas do Natal, e isso traz um ingrediente a mais: a pressão por resultados, misturada à alegria e ao espírito de celebração da época.
O Natal no desporto rei, é uma fusão de solidariedade, paixão, competição e histórias que fazem parte da magia deste desporto amado globalmente, mas… e as centenas de desportistas que passam esta quadra festiva longe dos seus familiares mais próximos e com tradições bem diferentes das suas?
Refiro-me especificamente aos desportistas do continente Africano e Americano. Tirando os clubes de grande visibilidades e de competições profissionais, são muitos os que, à procura do sonho viajam para a Europa, mas com o chegar do Natal, e sem dinheiro para poderem viajar para junto das famílias, passam a quadra festiva sozinhos ou em casa de companheiros de equipa dirigentes ou até mesmo de jornalistas, que movidos pelo espirito desta quadra festiva abrem as portas de sua casa para acolher estes solitários. Alguns fazem questão de marcar um pouco da sua tradição e mesmo não estando no seu país levam alguma tradicional das suas terras e recordo um velho amigo Congolês que falava sempre do “mikate”, uns bolinhos fritos à base de farinha, recheados com pasta de amendoim ou molho picante, que lhe fazia lembrar a infância.
Concluo dizendo que as tradições de Natal e o futebol representam importantes aspetos da cultura. O Natal, com o seu apelo à união e à celebração, casa na perfeição com a paixão que o futebol incita, fortalecendo laços e criando memórias que perdurarão por toda a vida.
Expresso aqui os votos de um bom Natal para todos.