Artigo de opinião escrito por Carla Barroso Reis- Enfermeira da ULS Trás-os-Montes e Alto Douro 

O Natal em minha casa sempre se revestiu de muito amor em família! Os preparativos da consoada começavam logo nas primeiras horas da manhã, havia sempre muita agitação que se misturava com os aromas característicos desta época, nós as crianças lá de casa, passávamos o dia em brincadeiras.

Lembro-me de ser da nossa responsabilidade a decoração dos pratos de Aletria, escrevíamos mensagens de Natal com canela, transportávamos os pratos de bolos de bacalhau para a sala de jantar, sim porque nesta noite o jantar era na sala. Contávamos e recontávamos os pratos e talheres, não podia falhar nada! Era uma verdadeira azáfama, quase em contrarrelógio, para tudo estar pronto “aquela hora”. Era um misto de ansiedade e felicidade.

Já na mesa, começavam as histórias do avô, que já faziam parte da gastronomia desta noite… da mesma forma que não há consoada sem polvo e bacalhau cozido, também as histórias do avô eram presença obrigatória.

O jantar terminava sempre muito tarde… pelo menos era esta a impressão que eu tinha! Era então que vinham as músicas, sim em minha casa, as festas em família têm sempre música, linda voz a da minha mãe, acompanhada à viola pelo irmão mais velho, os restantes acompanhávamos como podíamos.

Quando a noite já a longa e o cansaço chegava, recolhíamos aos nossos quartos, para dar lugar ao acontecimento mágico….a chegada dos presentes! Aquele pinheiro, cortado pelo pai Arnaldo e quase sempre escolhido por mim, decorado por todos, o presépio plantado sobre um manto de musgo fresco, recolhido no pinhal junto à casa dos avós, na manhã de Natal, transformava-se num espaço de gritos e gargalhadas! Era sem dúvida um momento mágico! Magia esta que só era possível ser entendida no seio da inocência de uma criança…

Foi numa manhã fria de dezembro do ano de 1986, que tive a notícia mais triste da minha infância…afinal o Pai Natal não existia…foi de uma crueldade! Achei, naquele momento que nunca mais poderia ser Natal! Não pelos presentes, pois esses, eram todos passados a pente fino nos armários lá de casa, com uma técnica tão apurada para os violar, que nem eu própria dava pela fita cola descolada! Mas pela magia que aquela personagem conseguia transmitir! Sem dúvida que o Natal, nunca mais foi igual.

Até ao dia que percebi que há muitas formas de voltar a acreditar no Pai Natal, afinal a magia existe sim, existe nos gestos sinceros e sentidos de quem nos rodeia, de quem ainda nos consegue surpreender, na amabilidade dos desconhecidos que nos cruzamos todos os dias e acima de tudo o meu pai natal afinal tem o nome de Mariana, Carolina, Paulo, Maria, Arnaldo…. Um Natal cheio de magia para todos.

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