Artigo escrito por Rita Teixeira- Diretora de Informação do Canal Ntv
A Ana detestava canela, a típica especiaria utilizada nos doces de Natal. Mas esta história não é sobre canela.
Desde criança que aquele cheiro doce e intenso fazia-lhe torcer o nariz. Durante a consoada, quando a avó começava a preparar as rabanadas ou as filhós, a Ana não suportava estar na cozinha.
“Como é que alguém gosta de canela?”, questionava sempre com um tom de reclamação. Enquanto a avó se ria e garantia que havia uma versão dos doces sem canela, para a neta.
Durante anos, fazer uma segunda versão dos doces sem canela era um prioridade na família paterna, com quem Ana costumava passar a quadra natalícia.
Era uma particularidade do Natal da família, mas era um dos motivos que o tornava especial. Até porque era a única a não gostar da especiaria.
Até que, num ano, tudo mudou. O Natal dividiu-se.
Ana tinha 20 anos quando os pais se separaram. Uma decisão que mudaria para sempre as tradições da família.
Nesse mesmo ano, com o aproximar das festividades, nada seria como antes. A consoada passava-se agora numa nova casa e com os familiares da mãe.
O ambiente era diferente e só havia uma versão de doces… cheios de canela. E foi nesse momento que Ana percebeu que não era só a canela que a incomodava. Era a falta dele.
25 de dezembro, dia de Natal: estava na hora de enfrentar mais uma realidade, mais uma divisão. Este dia era agora dedicado à família do pai, assim ficou decidido.
O cheiro a canela já se sentia, assim que se abria a porta de casa da avó Maria. Mas para surpresa da Ana, ninguém se esqueceu. Naquela mesa havia espaço para as filhós sem canela, o doce preferido da neta.
Foi então que Ana percebeu: a canela, mesmo odiada, era um pedaço da história e das melhores memórias. Não era sobre o cheiro, mas sobre o que ele significava.