Miranda do Douro vai marcar presença na FIMI- Festival Internacional da Máscara Ibérica, com os Pauliteiros de Miranda da Associação do Grupo de Pauliteiros de São Martinho e os mascarados ligados aos rituais dos solstícios de inverno na Terra de Miranda, como a Festa do Menino (Vila Chá de Braciosa), Festa do Velho e da Galdrapa (São Pedro da Silva) e a Festa dos Moços (Constantim).
Este sábado, 21 de setembro, mais de 500 participantes vão desfilar pelas ruas de Lisboa para celebrar a antiga tradição dos rituais da máscara.
Portadores destas manifestações ancestrais ligadas ao paganismo, os ‘mascarados’ vêm maioritariamente de Portugal (centro e norte) e Espanha (Astúrias, Galiza, Castela e Leão, Extremadura e Andaluzia), mas também as célebres máscaras venezianas estarão presentes, assim como um grupo proveniente da Grécia.
O desfile, que mostra a riqueza histórica, cultural e artística das máscaras, começa às 16h30 na Praça do Município e segue o seguinte percurso: Rua do Comércio, Rua da Prata, Praça da Figueira/Rua da Betesga, terminando no Rossio (Praça D. Pedro IV). O evento conta ainda com animação dos Pauliteiros e das Gaitas de Foles Asturianas.
Miranda do Douro vai também marcar presença, com um grupo de pauliteiros e os mascarados associados aos Rituais do Solstício de Inverno, como é o caso da Festa do Menino, da Festa do Velho e da Galdrapa e da Festa dos Moços.
RITUAIS DO SOLSTÍCIO DE INVERNO
Os Rituais do Solstício de Inverno, também conhecidos por Festa do Rapazes, são manifestações pagãs que se vivem um pouco por todo o Nordeste Transmontano e que simbolizam a emancipação dos jovens que neles participam. São rituais de “fecundidade” e de passagem.
De relembrar que, a 10 de julho de 2024, dia em que se assinalaram 479 anos da elevação a cidade, Miranda do Douro anunciou a submissão dos rituais do Solstício de Inverno a Património Cultural Imaterial.
PAULITEIROS DE MIRANDA
Os Pauliteiros de Miranda são um grupo de dança original das Terras de Miranda do Douro com antecedência na denominada “dança de espadas”. Sem certezas quanto ao à sua categoria, na dança dos Pauliteiros podemos identificar elementos guerreiros, religiosos e rituais de dança.
Nos dias de hoje, os Pauliteiros de Miranda são uma das principais atrações do nordeste transmontano. Tem uma contribuição fundamental na divulgação desta dança tão particular que faz parte da cultura e tradição das Terras de Miranda.
FESTA DO MENINO
Esta festa é celebrada no primeiro dia do ano (festa cristã de apresentação de Jesus no Templo) sendo também designada de festa do Ano Novo e de Festa da Velha. A ronda do peditório e de saudação aos moradores decorre durante toda a manhã, com música de gaita-de-foles e danças executadas pela Velha, pelo Bailador e pela Bailadeira. Após a dança, saúdam os donos da casa e recebem os donativos.
A Velha transporta nas costas quadras de peditório. A missa solene acontece por volta do meio-dia e conta com a participação dos atores e do gaiteiro. Segue-se o arraial, com o acender da grande fogueira no largo da igreja e o bailarico pela noite dentro, enquanto os figurantes continuam a pedir a “esmola” a quem aparece na Festa do Menino.
FESTA DO VELHO E DA GALDRAPA
A festa do ‘Velho e da Galdrapa’ (em língua mirandesa,’L Bielho i la Galdrapa’) esteve “adormecida” desde a década de 60 do século XX, com uma fugaz aparição na década de 90 do mesmo século, fruto de empenho de um grupo de pessoas, que recuperou durante dois anos esta tradição ancestral.
Esta celebração dá início ao período das festas solsticiais com mascarados na Terra de Miranda. Consiste na realização de uma ronda de peditório pela povoação, sendo a comitiva integrada pelo Velho, Galdrapa, Bailadores, instrumentistas e mordomos, que têm como função recolher as dádivas para a festa, ao mesmo tempo saudando e convidando os habitantes para a mesma.
Durante todo o percurso o Velho tenta dar a beijar o São Ciprião e enfarruscar os rostos das pessoas, mas o excesso de vinho e a idade avançada vão levá-lo várias vezes ao chão, perante a indiferença da Galdrapa que não se cansa de o apelidar de bêbado e de estúpido, repetindo que ele não serve para nada, “nem mesmo para pôr o espantalho no prado”.
FESTA DOS MOÇOS
Esta festa solsticial realiza-se entre os dias 27 e 30 de dezembro. Dedicada a São João Evangelista, tem como figuras rituais a Bielha e o Carocho, fazendo este a sua primeira aparição pública quando se acende a fogueira.
No dia da festa, o Carocho e a Bielha, acompanhados pelos pauliteiros e instrumentistas vão sendo guiados pelos mordomos pelas ruas da aldeia para se concretizar o ritual do “convite”: oferecendo tremoços e castanhas cozinhas de casa em casa e recolhendo, também, a esmola, retribuindo depois com a dança do lhaço pedido pelos moradores.
Segue-se a missa solene e a procissão em honra de São João Evangelista. No convite intervêm os gaiteiros, os pauliteiros e o par de mascarados, o “Carocho” e a “Beilha”, que representam cenas de apelo à fertilidade. Um dia depois, à noite, acontece a grande refeição comunitária, um convívio para todo o povo participar e viver intensamente, como único que é em todo ciclo anual.
Esta festa do Carocho e da Velha de Constantim conserva-se ainda com muita originalidade do seu ritual. Tem origem em rituais dionisíacos e nela aparecem sinais de comunitarismo antigo.
Jornalista: Lara Torrado