Artigo de opinião escrito por Lídia Praça | Presidente da MEL – Mulheres Empreendedoras da Lusofonia

Por estes dias de julho, dei por mim mergulhada no Idadismo, a propósito de Joe Biden. Não gostei do que vi e muito menos do que ouvi. Sim, assistimos a uma discriminação com base na idade, mas não é sobre ela que vou dissecar. O Idadismo, neste contexto, será apenas o ponto de partida para uma curta reflexão sobre a dignidade humana e o prolongamento da vida. A dignidade da vida humana é um conceito fundamental que permeia diversas esferas do pensamento humano, desde a filosofia até à ética médica. Essa dignidade, revestida de valor intrínseco, é o que nos torna humanos e nos permite coexistir em sociedade. Com o avançar da ciência e da medicina, especialmente nas últimas décadas, o prolongamento da vida tornou-se uma possibilidade tangível e, muitas vezes, uma realidade. Todavia, essa capacidade de prolongar a vida levanta questões éticas, sociais e filosóficas que merecem ser discutidas com profundidade e sem paixões.

Para compreender a relação entre a dignidade humana e o prolongamento da vida é crucial definir, desde logo, o que se entende por dignidade. A dignidade humana está frequentemente ligada à ideia de que todo o ser humano, independentemente de sua condição, possui um valor que deve ser respeitado. Essa noção é reconhecida em muitos documentos de direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.

Ora, à medida que a medicina avança, surgem novas tecnologias e tratamentos que podem estender a vida dos pacientes, especialmente daqueles com doenças crónicas ou terminais. O uso de novas terapias, como a medicina regenerativa, a terapia genética e os cuidados paliativos, possibilitam que muitos indivíduos vivam por períodos mais longos do que era possível há algumas décadas. Embora essa ampliação da expectativa de vida deva ser exaltada, ela também nos deve levar a refletir sobre os limites do prolongamento da vida e as condições em que esse prolongamento é realmente desejável.

O prolongamento da vida, sempre enquadrado pela ética, deve ocorrer dentro de um contexto que respeite a dignidade do paciente. No entanto, isso nem sempre é a realidade. Existem situações em que essa dilação se torna apenas num prolongamento do sofrimento. Para pacientes que se encontrem em estados terminais, que enfrentam dores intensas e que perderam a sua qualidade de vida, as intervenções médicas poderão significar apenas a extensão temporal da vida, sem consideração pela dignidade do ser humano.

O debate sobre a dignidade da vida é intensificado quando consideramos as questões da eutanásia. Em muitos lugares, o direito de um indivíduo escolher o momento da sua morte, quando se encontra em sofrimento intolerável, é um tema delicado e, muitas vezes, polarizador. Por um lado, temos os defensores da eutanásia a argumentarem que, em certas circunstâncias, a escolha de terminar a vida não é apenas uma questão de autonomia, mas também um gesto que pode preservar a dignidade do paciente e, por outro lado, ouvimos os seus opositores a sustentarem que a vida deve ser preservada a todo o custo, independentemente da qualidade dessa vida.

A dicotomia entre prolongar a vida e respeitar a dignidade humana provoca um dilema ético que médicos, familiares e pacientes devem enfrentar. Como podemos garantir o prolongamento da vida de uma forma que respeite a autonomia e a dignidade do paciente? Isto exige não apenas um desenvolvimento contínuo das práticas médicas, mas também uma discussão madura sobre os valores éticos e filosóficos que guiam as nossas decisões.

À medida que a tecnologia avança, é crucial que a sociedade desenvolva um diálogo abrangente sobre os limites do prolongamento da vida. A bioética desempenha um papel essencial neste processo, enquanto disciplina que procura garantir o equilíbrio entre os avanços científicos e os aspetos éticos que envolvem a vida humana e que inclui discussões sobre o consentimento informado ou a moralidade de certas intervenções médicas, porque os médicos não são deuses.

Em última análise, devemos esforçar-nos para garantir que qualquer forma de prolongamento da vida tenha em consideração não apenas a quantidade, mas a qualidade da vida. A capacidade do prolongamento da vida é, sem dúvida, uma conquista poderosa da humanidade, mas é também nossa responsabilidade assegurar que esse prolongamento ocorra em condições que respeite a dignidade, a autonomia e a qualidade de vida de cada indivíduo. O debate é complexo e multifacetado, mas o compromisso com a dignidade humana deve permanecer no centro de todas as considerações. Assim, à medida que se avança neste campo é crucial que se procurem formas de alinhar os progressos científicos com a ética, criando um futuro onde a dignidade da vida seja sempre a prioridade na busca pela longevidade.

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