O alerta de “desespero” é da Federação Renovação do Douro devido à situação em que se encontram os produtores e cooperativas da região, pela incapacidade de acomodar as toneladas de uvas que este ano não foram compradas pelos grandes operadores.
“Temo-nos deparado com problemas gravíssimos. As adegas cooperativas estão a servir de amortecedor [para os pequenos viticultores] e muitas delas não vão aguentar o aumento de oferta de sócios e de produção para o corrente ano, porque estão com dificuldades financeiras”, alertou, em declarações à Lusa, Rui Paredes, presidente da Federação Renovação do Douro.
Segundo o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), na Região Demarcada do Douro, há cerca de 20 000 viticultores, com propriedades que, em média, não ultrapassam os dois hectares.
Com um grande peso na produção de Vinho do Porto, este ano, avança Rui Paredes, “milhares” de pequenos viticultores não conseguiram vender as uvas às grandes empresas que dispõem ainda de stocks devido à queda das vendas e exportações.
O dirigente defendeu que é necessário, neste momento de crise, “criar um programa que permita aliviar financeiramente” estas instituições, mas admite que esta não é uma solução viável a curto prazo.
“Eu compreendo que nunca poderá ser feito um modelo só para o Douro, terá de ser estendido a todo o país e serão necessários milhões de euros. Não sei se será possível fazer algo que tenha impacto já nesta vindima. E este é o problema, é algo que nós precisamos para agora”, sublinhou, acrescentando que da reunião com a tutela não saiu nenhuma medida em concreto que pudesse aliviar o “momento de preocupação e desespero”.
“O desespero chega ao ponto de muitos [viticultores] chorarem à porta das adegas porque não têm onde descarregar as uvas”, remata.
Rui Paredes teme pelo futuro da região, classificada, pela Unesco, em 2001, como Património Mundial da Humanidade, e antecipa que, na próxima campanha, mais viticultores abandonem a atividade.
“Ouve-se falar de valores que não justificam sequer apanhar [as uvas]. Estamos a falar valores na ordem dos 150 euros por pipa [550 litros], com custos de produção a rondar os 120 euros”, explica, reiterando a importância das cooperativas que “suportam muito do que as empresas não querem”.
“A minha perceção é que vai haver muita gente a desistir desta campanha e vai haver manchas no território, onde os produtores ou vão buscar ao seu mealheiro ou não vão ter dinheiro para o granjeio de um ano”, acrescentou, sublinhando que o abandono das terras terá consequências na paisagem que foi sendo construída à custa da mão-de-obra e dos autóctones que sempre trabalharam a vinha.
Rui Paredes considera que as medidas excecionais para fazer face às perturbações de mercado no setor vitivinícola são insuficientes para os produtores que em julho viram reduzida em 12 mil pipas [104 mil pipas] a quantidade de mosto para vinho do Porto que podem produzir, depois de, na reunião Conselho Interprofissional do IVDP, terem chegado a um entendimento com o comércio que pretendia uma redução maior.
Por: Lusa