Produtores do morango mais doce de Portugal temem que grande parte do fruto possa ficar na terra devido à redução do consumo.
Está cancelada a Feira do Morango de São Pedro Velho, no concelho de Mirandela, que estava agendada para os dias 9 e 10 de maio, devido às medidas que estão em vigor para conter a propagação do novo coronavírus.
“Atendendo ao que se está a passar, era inevitável adiarmos a feira”, afirma o presidente da junta de freguesia, lamentando ter de tomar esta decisão porque, desde 2009, o certame tem sido uma mais-valia para os produtores de morango, com a visita de milhares de pessoas a uma aldeia que conta apenas com cerca de 180 habitantes. “Economicamente era importante para eles, porque conseguiam vender cerca de dez toneladas do produto”, sublinha Carlos Pires que dá conta que a aldeia produz anualmente uma média de “70 a 80 toneladas de morango”.
Este cancelamento é mais uma dor de cabeça para aqueles produtores que perspetivam um enorme prejuízo. “Grande parte da colheita deste ano pode ficar por apanhar por falta de trabalhadores, porque as cerca de 50 pessoas que costumam contratar para a campanha, podem vir a recusar a apanha pelo receio de contágio da Covid 19 mas também porque o consumo está reduzido e o morango não dá para conservar muito tempo”, adianta o autarca.
Sendo assim, aquele que já é denominado por muitos como o morango mais doce de Portugal, devido ao microclima da zona, pode estar em risco. “Fazemos a plantação em julho e temos de andar sempre de volta dele e agora receio que o trabalho de um ano vá por água abaixo devido a esta pandemia”, teme Armindo Alves, um dos seis produtores desta aldeia.
Dentro de duas semanas, já haverá morangos para vender, mas os armazenistas da região ainda não fecharam encomendas devido à redução do consumo. “Tínhamos a fábrica Sortegel de Bragança que nos ficava com muito morango para congelar, mas este ano já não será assim, porque têm as câmaras cheias de castanha congelada que não foi possível exportar para Itália”, conta Armindo Alves, que teme que grande parte das cerca de 30 toneladas de morango que produz anualmente possa ficar na terra.
A mesma apreensão sente Manuel Pinto que produz, em média, cerca de 20 toneladas por ano. “Este ano, temos morango de excelente qualidade, até no calibre, mas é pena que nos fique lá todo no chão. Isto é o nosso ganha pão”, lamenta o produtor.
Perante este cenário, a junta de freguesia vai tentar apoiar os produtores, criando pontos de venda a anunciar dentro de dias, mas Carlos Pires prevê que as consequências desta colheita sejam drásticas para a aldeia. “Se correr mal este ano, não sei se os produtores terão forças para voltar à produção”, teme o autarca.
Jornalista: Fernando Pires
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