A mãe de uma criança portadora de trissomia 21 acusa os Salesianos de Mirandela de discriminação, depois de aquela instituição religiosa ter recusado a possibilidade de o seu filho de 7 anos integrar o campo de férias que está a decorrer.
A criança ainda chegou a iniciar um período experimental, mas, ao segundo dia, foi comunicado à mãe que o seu comportamento agressivo poderia colocar em causa a segurança das restantes crianças pelo que foi decidido retirar o menino do campo de férias.
A mãe está “indignada” e diz não ter alternativas para colocar o seu filho em atividades de tempos livres. Já o diretor dos Salesianos de Mirandela fala em comportamentos agressivos e problemas de relacionamento com os restantes elementos que integram o campo de férias.
Carla Miranda, mãe de Rafael, a criança portadora de trissomia 21 – uma doença cromossómica que causa deficiência intelectual e anomalias físicas – não contém a sua indignação. “Quando inscrevi o Rafael, alertei que ele tinha trissomia 21, que era uma criança teimosa, que tinha que se ter um bocadinho mais de paciência, e acho que não é num espaço de dois dias que se conhece uma criança com estas características”, afirma. “Portanto, eles não puseram entraves nenhuns quando eu inscrevi, e disseram que era uma semana à experiência, porque era uma criança diferente, mas no primeiro dia do ATL tive logo queixas, e na terça-feira, disseram-me logo que ele não ia mais”, acrescenta.
Carla Miranda não entende esta tomada de posição da instituição. “Pergunto, o que os pais fazem a uma criança que seja diferente, porque eles todos têm direito de viver em sociedade”, desabafa.
A mãe desta criança fala mesmo em “rejeição e falta de vontade” da instituição para tentar gerir o caso. “Tomei como rejeição, porque não deixaram passar pelo menos uma semana, porque dois dias, é a criança a tentar ver até onde é que pode ir, porque é tudo novo é tudo novidade, e não houve aquela força de vontade, já que foi dito que era uma semana, vamos tentar uma semana. Para ver, se não conseguirmos pronto, ai é aceitável porque foi falado uma semana. Tinha que aceitar não é, porque sei o filho que tenho”, refere.
Perante isto, Carla Miranda diz não ter solução para colocar o seu filho em atividades de tempos livres porque sente que todas as portas acabam por se fechar. “Há sempre o entrave da trissomia tem que se perguntar aos superiores, se aceitam ou não aceitam, e no fundo as crianças com trissomia 21 são iguais aos outros porque há crianças ditas normais que são piores que o Rafael. Não obedecem, fogem, escondem fazem muita asneira são crianças, tem de ser tratadas como tal”, afirma.
A Mãe de Rafael diz que este é apenas mais um episódio de rejeição a que o seu filho tem sido sujeito, revelando que também em ambiente escolar “ainda existe muito preconceito” no relacionamento com o seu filho
INSTITUIÇÃO FALA EM COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS DA CRIANÇA.
Sobre este assunto, o diretor dos Salesianos de Mirandela, assume que “houve compromisso com a mãe da criança de realizar uma semana de experiência”, mas fala em comportamentos agressivos e problemas de relacionamento com os restantes elementos que integram o campo de férias. “Ele esteve aqui dois dias e logo no primeiro dia notaram-se complicações em termos de relacionamento interpessoal com os pares e o segundo dia ainda foi mais complicada porque tratava-se de realizar atividades fora deste contexto, e houve situações de agressividade numa piscina de Torre de Moncorvo em que chegou a tirar um telemóvel de um colega atirando-o para bem longe, apropriou-se de objetos pessoais de outros colegas e fez a mesma coisa, desrespeitando totalmente aquilo que era indicado pelos animadores e arrancou mesmo a vedação existente na piscina e não deixou o animador resolver a situação, pelo que chegamos à conclusão que era muito difícil ter aqui este menino a fazer este tipo de atividades e a assumir estas atitudes, sob pena de criarmos aqui um problema relativamente ao grupo e às pessoas que acompanham”, explica o Padre João de Brito.
O diretor da instituição nega qualquer tipo de discriminação. “Se nós tivéssemos um campo de férias específico para situações desta natureza, naturalmente podíamos ajustar e ter uma atividade só para estes meninos porque precisam de muito mais acompanhamento. Mas, organizamos este campo de férias de uma forma geral e inclusivamente não descriminamos ninguém, porque até temos aí uma menina que é cega e está a fazer o percurso normalmente com uma grande capacidade de orientação, mas tem sempre um colega ou um animador ao lado dela para se poder orientar e até já tivemos no passado situações desta natureza e não tem havido problemas, mas este é o primeiro caso que temos mais complicado em termos de gestão do dia-a-dia, mesmo impossível, diria, porque cria problemas em relação ao grupo e aqui é que está o problema, porque não é nossa intenção marginalizar ninguém. Este campo de férias sempre teve uma dimensão inclusiva”, conclui.
No campo de férias dos Salesianos de Mirandela estão cerca de 150 crianças com idades entre os 6 e os 15 anos.
Jornalista: Fernando Pires
Foto: Canal N