Artigo de Opinião de Marisa Lages – Fisioterapeuta, Docente no Ensino Superior e Investigadora na área da Gestão
Desafios fundamentais tem vindo a enfrentar o sistema de prestação de cuidados de Saúde nacional. Também nós, em Portugal, no contexto das têndencias europeias verificadas na evolução demográfica, epidemiológica e sócio-cultural, partilhamos de uma realidade sob pressão para a implementação de novas formas de prestar cuidados de Saúde e, consequentemente, de novas formas de organização, financiamento e gestão das organizações de Saúde.
Assumamos, portanto, um princípio fundamental. Que a educação dos profissionais de Saúde, sendo mais que um processo de desenvolvimento de competências funcionais, consiste também na promoção da sua sensibilidade para o Todo do sistema de Saúde. A ação educativa prioritária é, portanto, a da Saúde, desde os cuidados primários aos terciários, passando pelos domiciliários, continuados e cuidados sociais. É, neste sentido, que temos obrigação de preparar o futuro profissional de Saúde promovendo a transformação do atual espartilho das especializações e sub-especialiazações da prestação de cuidados de Saúde. O melhor interesse do cidadão, o melhor interesse do doente, o melhor interesse do coletivo social, depende da capacidade de pormos a ciência a trabalhar para o seu bem estar. Ou seja, depende da nossa capacidade de implementarmos processos humanizados de cuidar, prestar e gerir serviços de Saúde.
É esta atitude humanista, apoiada na recuperação da visão holística da Saúde, que deverá estar subjacente à formação dos profissionais de Saúde.
Não, ignoremos, porém, a realidade inerente à dinâmica dominante da “Real Poltitik” no que diz respeito às decisões de financiamento dos cuidados de Saúde. É que a pressão para uma utilização mais racional dos recursos da Saúde marcará a agenda da discussão pública sobre esse setor. As pressões com origem na realidade do Estado em crise orçamental não poderão ser ignoradas. O que nos levará, necessariamente, a evidência de custo-efetividade no que diz respeito também ao impacto na qualidade de vida do doente.
Em síntese, estamos perante o desafio de apoiarmos e garantismos a resistência a uma forma de economicismo insensível à natureza do ato de cuidar, sem dúvida. Mas estamos também perante o desafio de garantir que o futuro da prestação de cuidados de Saúde não é afetada pela utilização irracional dos recursos disponibilizados pondo em risco a sua sustentabilidade. è o equilíbrio entre estas duas visões que deverá guiar a essência da formação das profissões da Saúde para o Século XXI.
Para reflexão:
Até que ponto os curriculos de formação das profissões da Saúde promovem equilíbrio de acordo com o mencionado? Que transformações estão em curso?