O mirandelense Augusto Fontes foi um dos treinadores da equipa de Portugal que conquistou a medalha de bronze no campeonato da Europa de Skyrunning, disputado no final de novembro, em São Pedro do Sul.
Foi mesmo a melhor classificação de sempre de Portugal, que subiu ao pódio, onde também marcou presença a Espanha, medalha de ouro, e a Itália que conquistou a medalha de prata.
Augusto Fontes não esconde o orgulho pelo feito conquistado nesta modalidade de corrida pedestre essencialmente na montanha, com percursos que apresentam um elevado desnível positivo, secções técnicas e inclinações acentuadas, podendo utilizar caminhos, trilhos, rochas ou até neve.
O mirandelense diz ser uma modalidade mais dura que o trail. “O desnível é completamente diferente, porque no skyrruning sobem paredes. Só para se ter uma noção, no campeonato da Europa os 65 quilómetros tinham, 6 500 metros de desnível”, conta.
O treinador de Skyrunning revela que para se praticar esta modalidade é necessário um plano de treino diversificado e muito rigoroso para tentar evitar o aparecimento de lesões. “Mete alimentação, a preparação física também em termos de reforço, porque não é muito boa ideia só meter quilómetros nas pernas em plena serra, porque assim há muito desgaste físico, estamos a forçar demasiado as articulações, a perder massa muscular e assim é que aparecem mais facilmente as lesões. Pelo que é necessário fazer trabalho físico de reforço, até pode ser na pista. É bom andar de bicicleta, nadar, ir ao ginásio, treino que não tenha impactos”, refere.
Augusto Fontes lamenta a falta de apoio institucional para quem pratica esta modalidade, revelando que a equipa portuguesa que orientou neste europeu não teve sequer direito a um equipamento ou a um fato de treino. “Já tive atletas meus que foram para provas internacionais e levamos vestida uma t’shirt a dizer Portugal, nada mais”.
O treinador mirandelense espera que esta medalha de bronze possa ajudar os responsáveis a olhar para o Skyrunning de forma diferente. “O vice-presidente da federação, no jantar final do europeu, esteve à minha frente e perguntei se não havia cinco euros para fazer uma sweat que dissesse Portugal e ele disse, agora com este resultado vamos pensar melhor”, confidencia.
“Este ano, os atletas tiveram direito a uma mochila, a dizer Portugal, a duas t’shirts para correr nos dois dias da prova e depois para irmos à cerimónia do pódio tivemos que lavar uma das t´shirts para vestir. Acho que o país devia abrir os olhos e ver que não há só o futebol”, lamenta.
O mirandelense não esconde que a sua principal paixão é o atletismo, mas defende uma maior aposta na formação. “Portugal tem que apostar na base que são as escolas as prés, porque aí é que se apanham os miúdos. Aqui no futebol, o Mirandela tem um montão de crianças, porque razão não existem muitas crianças a praticar atletismo?”, questiona Augusto Fontes, confessando que gostaria de ter na sua terra natal mais equipamentos desportivos para desenvolver essa modalidade.
Augusto Fontes, um mirandelense de 44 anos, fez parte da equipa técnica da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, na modalidade de Skyrunning, que foi medalha de bronze no Campeonato da Europa.
Atualmente a residir na Madeira, o professor de educação física está destacado pelo Governo Regional para o Clube Escola do Estreito como treinador e coordenador das modalidades de atletismo, Skyrruning e ciclismo.
Em 2020, Augusto Fontes foi um dos nomeados para a categoria de treinador do ano da Confederação do Desporto de Portugal.
Jornalista: Fernando Pires